Jair Queiroz – O caso Maravilha Parte II

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Na apuração dos fatos – inclusive com direito a reconstituição da cena do crime, da qual o eu representei um dos executores e o colega João Rodrigues, o “Passarinho”, Técnico de Necropsia do IML, fez o papel da vítima – verificou-se discordância entre o relato dos autores e o laudo médico, por isso foi pedido a exumação do corpo. A equipe, chefiada pelo Dr. Parente, Diretor do IML e Técnicos de Necropsia, chegou ao município e na mesma tarde deu-se início aos trabalhos.Curiosos os habitantes acorreram para o local, se apinhando sobre o muro, subindo em árvores e carrocerias de caminhão.

Por volta das 17h e havia se formado um temporal, com relâmpagos e trovoadas e assim que o corpo foi retirado da simples vala aberta na terra, a chuva desabou, impedindo a continuidade da coleta de amostras, fotos e outros trabalhos que seriam feitos ali mesmo no local. A empreitada foi interrompida e uma lona plástica foi usada para cobrir o corpo pútrido e com membros separados do tronco.

O povo se retirou às pressas, os técnicos também se foram e logo restavam apenas alguns membros da equipe. Eu fiquei acompanhando o Secretário, juntamente com o Dr. Parente e o colega que iria conduzir a viatura. Estava bastante escuro, trovoava, relampejava e ventava. Já estávamos no interior da viatura quando o Secretário arguiu: – “Mas esse corpo não pode ficar aí sem ser guarnecido. Alguém pode ter interesse em destruir provas.” E dirigindo-se ao colega condutor ordenou: – Você terá que ficar aí até que providenciemos o apoio da PM. Ele ficou nervoso, parecendo apavorado e resistiu a ordem o que causou um breve momento de tensão com o Secretário, no que eu, para amenizar a situação, ofereci-me a ficar.

Retornei para o interior do cemitério por volta das 19h30min, caminhei pelo corredor central, mal visualizando o terreno, passei por onde estava o corpo e fui me abrigar num barraco rústico onde se guardavam materiais como pás, picaretas, rolo de cordas, carrinho de mão e outros. Tateando no escuro encontrei um local para sentar. Verifiquei minha munição, ou seja, os 5 cartuchos que tinha no Taurus 38, bastante usado. Não levou muito tempo para que adormecesse, pois o dia tinha sido intenso e eu estava acordado desde as 5 da manhã. Cerca de uma hora depois acordei com uma luz invadindo o local cuja porta era amarrada com arame e tinha frestas imensas entre as tábuas. Havia também sons de conversas e por um instante pensei que fossem os PMs que viriam me substituir, mas não eram.

Três homens estavam na frente do cemitério e eu só pude vê-los por terem passado diante dos faróis do caminhão que ocupavam. Fiquei tenso e saí do meu abrigo e me escondi atrás de um arvoredo e fiquei observando. Dois pularam o portão e vieram andando lentamente pelo corredor central, na direção em que eu estava. Eu não seria pego de surpresa, ao contrário, resolvi atacar. Fui ao encontro deles, me esgueirando por entre plantas, ou rastejando entre os túmulos. Havia, enfim, um túmulo erigido em cimento e me deitei atrás dele. Os dois estavam a poucos metros e portavam uma lanterna. Esperei passarem um pouco adiante de onde eu estava e ordenei que parassem. Disse: “É a polícia e vocês estão cercados (por um só rsrsrs)”. Só os via em razão da lanterna que carregavam, mas não discernia nada mais. Eles ficaram apavorados. Perguntei o que faziam ali e soube que eram servidores da Prefeitura, que inclusive estiveram acompanhando os trabalhos da tarde.

Enfim, eram apenas trabalhadores que haviam bebido algumas doses a mais e resolveram demonstrar coragem adentrando ao cemitério onde sabiam que um corpo estava exposto. Tomei a lanterna deles, que me foi muito útil e mandei que saíssem dali o mais rápido possível. Óbvio que eles não pensaram duas vezes. Estavam em pânico!

Aproveitando a lanterna fui checar como estava o corpo e vi que a lona havia sido arremessada longe pela ventania e partes do corpo haviam sido arrastadas um pouco pela enxurrada. Puxei-as para próximo ao tronco, usando um galho, recobri o corpo e voltei para meu abrigo.

Estava começando a cochilar quando a PM chegou. Saí e fui a encontro deles que surpresos apontaram suas armas na minha direção. Ergui os braços e calmamente expliquei quem era e porque estava ali e pedi carona para retornar à cidade, porém me negaram, ou seja, depois de tudo caminhei a pé por uns dois quilômetros. Chegando à Delegacia dormi no gabinete do Delegado, que se encontrava vazio por razões obvias e permaneci naquela sede por 22 dias, sendo que só tinha levado roupa para três, conforme fora instruído. Ou seja, a situação não estava nada boa, mas no final tudo deu certo.

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