Alan Marques
Josias de Souza
Encena-se nesta terça-feira em Brasília a coreografia mais melancólica do processo de impeachment de Dilma Rousseff. O PP, Partido Progressista, campeão no ranking de encrencados no petrolão, decidiu desembarcar do governo. O gesto pode significar o beijo da morte para o governo.
A portas fechadas, o PP contou seus votos. Dos 47 deputados da legenda, 37 informaram que estão fechados com o impedimento de Dilma. Nove gostariam de votar contra. Um se manteve em silêncio. Consumado o resultado, o líder Aguinaldo Ribeiro, que era contra a deposição da presidente, passou a costurar a unanimidade pró-impeachment.
A resistência da cúpula do PP funcionava como um dique. A posição majoritária dos deputados rompeu a barragem. Os próprios operadores políticos do governo admitem, em privado, que a enxurrada pode arrastar para o lado da oposição os votos que faltavam para ultrapassar a marca dos 342 necessários à abertura do processo de impeachment.
O governo receia perder o controle que ainda imaginava ter sobre o PR do mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto e o PSD do ministro Gilberto Kassab. Saltam do barco governista também legendas menores, como o PRB (22 deputados) e o PTN (13 deputados).
Sucede com Dilma um fenômeno típico de governantes em fim de linha: as bases dos partidos desautorizam os acordos fechados pela cúpula. Fisiológicos até a alma, os deputados do PP, por exemplo, batem em retirada no instante em que Lula oferece aos dirigentes da legenda a pasta da Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal.
Deve-se o desapego a dois fatores. O primeiro é que os políticos já não confiam em Dilma. Duvidam até que ela vá entregar o que promete se sobreviver ao impeachment. O segundo fator é a voz do asfalto. Deputado é capaz de tudo, menos de se indispor com o seu eleitor. Sem o dinheiro fácil da Petrobras, o apoio a Dilma tornou-se um empreendimento falimentar.