Ze Cruz
Josias de Souza
Guiando-se por conselhos de Lula, Dilma Rousseff tenta aproveitar a remodelagem da Esplanada dos Ministérios para formar um gabinete capaz de interferir no resultado das votações no Congresso. Preocupa-se sobretudo com a Câmara, a Casa Legislativa que tem a prerrogativa de iniciar um eventual processo de impeachment. É justamente ali que o apoio ao Planalto tem se revelado mais débil.
Nas palavras de um operador político do governo, Dilma precisa de ministros que possam lhe assegurar votos no Parlamento —algo que a atual equipe não vem conseguindo fazer. A prioridade é satisfazer os apetites do PMDB do vice-presidente Michel Temer, beneficiário direto de um eventual afastamento de Dilma. Tenta-se compor não um ministério dos melhores, mas dos politicamente mais rentáveis.
Dilma inquietou-se na semana passada ao ser informada por líderes governistas de que sua infantaria na Câmara soma, numa conta otimista, algo como 200 dos 513 deputados (nos tempos áureos de Lula, o exército aliado roçada a casa das 400 cabeças). Para evitar que a oposição derrube em plenário o eventual arquivamento de um pedido de impeachment, Dilma precisa de 257 votos. Para aprovar uma emenda constitucional recriando a CPMF, necessita de 308 votos.
Dilma realiza dois movimentos paradoxais. Num, discute com sua equipe a extinção de dez dos seus 39 ministérios. Noutro, tenta operar o milagre de renovar a ocupação fisiológica da Esplanada tendo menos pastas para distribuir. No PMDB, por exemplo, dos seis ministérios ocupados pela legenda pelo menos três seriam candidatas naturais à lâmina: Portos, Aeroportos e Pesca.
Espera-se que Dilma chame Michel Temer para uma conversa já nesta segunda-feira (21). O anúncio do enxugamento da Esplanada foi prometido para quarta-feira. Afora os desafios habituais, há um complicador adicional: num governo com o Tesouro em petição de miséria, a poltrona de ministro é menos sedutora. O interesse diminuiu na proporção direta do crescimento dos cortes no orçamento.
Tudo isso e mais a evidência de que um governo que reforma um gabinete empossado há menos de nove meses é um governo fraco. Um pedaço expressivo do PMDB, pragmático ao extremo, se sente mais atraído pelo aroma da perspectiva de poder que emana do gabinete do vice-presidente. O Planalto tenta vicular-se à bancada peemedebista da Câmara por meio do líder Leonardo Picciani (RJ), que enxergou na fragilidade de Dilma uma oportunidade a ser aproveitada.