Reportando-me a meados da década de 80 em Porto Velho, recordo que quando diretor do Instituto de Criminalística/DPT/SSP/RO, em face de a estação chuvosa ser muito forte, a BR 364 que liga Cuiabá a Porto Velho, à época tal rodovia não era asfaltada e se transformava em intermináveis atoleiros, causando transtornos aos caminhoneiros que transportavam mercadorias (alimentos) perecíveis, dentre eles: Carnes, ovos, leite, frutas, alem de verduras etc.,sem contar os não perecíveis, como arroz, feijão, milho, açúcar, farinha etc., que também eram deteriorados, em virtude do tempo em que ficavam nos caminhões até que fossem puxados, por tratores que muitas vezes quebravam quando da tentativa de arrancá-los dos atoleiros infernais.
Como se tratava de mercadorias seguradas, se fazia necessárias a realização da perícia, e posteriormente a apresentação de Laudo Pericial para que fossem ressarcidos os danos causados nos produtos avariados por ocasião das chuvas torrenciais, o que sem medir esforços, deslocava nossos peritos até por via aérea se necessário fosse.
Passado o inverno, no verão seguinte, numa manhã de quarta-feira, quando estava em meu gabinete a conversar com o Sr. Secretário Humberto de Morais Vasconcelos, quando que fui avisado pela minha secretária que havia um caminhoneiro querendo falar comigo, sem que fosse necessário manda esperar um pouco, de pronto o Dr. Humberto autorizou o cidadão entrar, pois o nosso papo era informa.
Ao adentrar no gabinete, sem haver qualquer constrangimento, o caminhoneiro nos agradeceu pela presteza e o imediatismo quanto à liberação do laudo que sem dúvida amenizava o sofrimento quando da estação chuvosa. Mas, não terminou apenas no simples agradecimento. Na presença do Dr. Humberto, o caminhoneiro em nome de seus colegas e patrões, falou para mim: ‘Senhor diretor, no caminhão que se acha aqui na frente, trouxe para o Senhor e seus peritos, arroz, feijão, milho, farinha e açúcar. Naquele instante, fiquei pasmo e constrangido em razão do secretário que assistia a tudo, falei: ‘Moço é nosso dever atender quem necessita de nossos préstimos de forma incondicional’. Mas, nem terminei de falar, pois incontinente o Secretário Humberto entrou na conversa e mandou que eu recebesse a mercadoria, pois se tratava de doação de pessoas honestas, para quem honestamente os socorreu quando dos seus sofrimentos nos atoleiros da BR 364.
Diante disso resolvi então aceitar. Tudo bem aceitei de bom grado! Só que o Senhor Secretário ao se despedir de mim e do caminhoneiro, para minha surpresa me chamou em particular e me falou o seguinte no ouvido: ‘Lima, não se esqueça do meu arroz e feijão!’