Meu prenome, ou seja, meu nome pessoal, tem origem hebraica. Esse detalhe foi citado pelo premier israelense, Benjamin Netanyahu ao comentar que o prenome do nosso Presidente eleito – de quem sou homônimo – é comum em seu país. Na Bíblia é citado algumas vezes no Antigo Testamento, ora referindo-se a um Rei, ora a um Juiz, ou numa passagem que refere a um escolhido por Deus para fundar uma aldeia que foi chamada de “Aldeia de Jair” (Números 32, 41). A transliteração exata é Ya’ir, porém, no nosso idioma para que se adequasse melhor à pronúncia exigiu-se o emprego da letra “J”.
Durante minha infância e adolescência os colegas de escola e amigos do bairro, frequentemente associavam meu nome ao do jogador de futebol Jairzinho ou ao do cantor Jair Rodrigues. Às vezes eu ria, levava na esportiva, noutras ficava indiferente, fazia de conta que não ouvia ou corrigia o brincalhão.
O tempo passou, fui me envolvendo em outras searas e meu nome continuava sendo motivo de brincadeiras e algumas vezes de confusões mais explícitas, como certa vez num jornal que reportou minha posse num determinado órgão, destacando no cabeçalho: “Foi empossado o Psicólogo Jair Queiroz”, mas, logo abaixo, no primeiro parágrafo da matéria, lia-se: “Segundo o Psicólogo Jair RODRIGUES, …”. Parecia perseguição!
Num evento numa Faculdade o Mestre de Cerimônias anunciou: “Após o coffee breack, teremos a palestra com o Psicólogo Jair RODRIGUES”. Protestei, obviamente, chamando-o a um canto e exigindo que corrigisse, ao que me pediu mil desculpas e disse que faria a correção de forma discreta, sem fazer comentários, visto que isso evidenciaria ainda mais o erro. Ok, confiei naquele profissional! Chegado o momento, eis que o homem, empostando a voz, anuncia: – Senhoras e senhoras, dando sequência a programação, teremos agora a palestra do psicólogo Jair RO-DRI-GUES! Ou seja, não só manteve o erro como o destacou, pronunciando sílaba por sílaba. Foi a pior gafe envolvendo meu nome.
Para evitar essa fatídica associação o jeito seria enfatizar meu sobrenome (ou, tecnicamente, meu nome de família), ou seja, QUEIROZ, tirando o foco do prenome para não haver mais analogias. E assim foi durante anos, surgindo o Psicólogo Queiroz; professor Queiroz e até “meu amigo/colega Queiroz”.
Foi nesse contexto que emergiu o candidato a presidente, que veio a ser eleito, e que é meu homônimo. Não deu outra! Começou uma fase de “falaí presidente”, “bom dia Sr. Bolsonaro” ou, pior, “e aí meu amigo Jair Bolsonada” – entre outros gracejos.
O que já era ruim piorou com a recente entrada em cena um tal “motorista QUEIROZ”, que, segundo a mídia, andou escamoteando uma grana ilícita. Não há mais para onde correr! Não vou mudar agora para “Ferreira”, meu nome do meio. Vou é entrar na brincadeira sem perder o humor. Assumirei como jogador de futebol, sambista, presidente e até motorista – desde que esse seja inocentado das acusações que estão pesando sobre ele.
Nenhuma brincadeira me tirará o mérito de ser psicólogo, mestre de artes marciais, professor de yoga, pai, amigo, brincalhão e até coautor de um livro sobre educação. Afinal, meu prenome, Jair, na origem, significa “Iluminado de Deus”, logo, nem o mais cruel bullying é capaz de denegri-lo.