A madrugada foi intensa. Passei horas mergulhado em reflexões sobre o tempo… o tempo que carrega a vida!
Fui invadido por elaborações oníricas que vasculharam minha vida pregressa e ao mesmo tempo me remeteram ao futuro. Futuro? Indaguei! – Mas que futuro se no máximo me resta 1/3 de vida?
Sim, considerando meu quadro de saúde atual, o vigor de desportista que desenvolvi em muitos anos de dedicação, devo chegar lá nos 90 talvez até com clara lucidez, mas, óbvio, com a energia física em decadência.
e dei conta de que minha vida parece estar estruturada em três períodos temporais de igual duração, mas muito distantes em produção de conteúdos. A primeira etapa foi de luta interna, solitária e ansiosa, embora externamente fluísse como se pisasse sobre granito firme. Havia e sentia uma clara desconexão entre o “eu interior, pensador, quieto, buscador, empático e o eu exterior, feio, fraco, magro, arqueado sobre os ombros, parecendo suportar um peso maior do que a força me permitia.
Último de seis filhos, onde as três primeiras eram mulheres, ocupei o derradeiro posto entre os meninos que vieram depois.
Último…! Essa era a mensagem! O último, o mais fraco, o que não pôde chegar em primeiro, que falhou na primeira missão.
Ainda criança eu queria voar, aliás, sonhava voando como os gaviões que via passar alto, plainando sobre a casa e o pomar. Eu precisava me elevar, subir, alçar, flutuar e me sentir livre… Livre dos incômodos de ser caçula, nascido para sofrer as agruras de ser mais fraco, o menor, o franzino.
Na pré adolescente o sentido pictórico aflorou e me fez encontrar a Escola Particular de Belas Artes do mestre grego Elie Pannagiotes Tountas. Foi um dislumbre! Impregnou-me o cheiro das tintas, o toque dos pincéis… Minha mente criativa, enfim voava mas o corpo ainda requeria ânimo, energia. Foi aí que entraram as artes marciais, a matéria do guerreiro, do combatente do combate justo. Campeão, referência, destaque, notícia em jornais…
As coisas pareciam estar se ajustando, porém a percepção era de que os feitos recebiam maior reconhecimento fora do ciclo familiar. Em casa continuava raquítico…o último.
A necessidade imperiosa de liberdade gritava e não tardou a iniciar uma nova etapa. – Vá! disse-me a voz interna e eu fui. Fui para longe, para o outro lado do país. Do Sul ao Norte, sozinho para me refazer.
O chamado interno me levou à Universidade e a matéria Psicologia passou a ser meu sentido de viver. Diplomado, pós diplomado… Minha primeira fase havia se concluído. Haviam se passado 30 anos de buscas do EU perdido em mim. Iniciava aí a segunda fase, muito profícua, na qual pude dar vazão ao sentimento empático que me orientava nas relações com os sofredores. Meu consultório era nos becos, nas “bocas”, nas biroscas de trás da rodoviária em Porto Velho, no Porto do Cai N‘água, lugares onde presenciei muitas dores; onde entrei e saí muitas vezes com pessoas que se sentiram valorizadas, respeitadas e, em especial, que foram ouvidas e acreditaram nas suas potencialidades, dando vazão aos próprios recursos para restaurarem suas vidas.
Falei diante de multidões em auditorias, escolas, ginásios; Escrevi e viajei, dentro e fora do país em busca de aprender, mas, mesmo aprendendo não pude muitas vezes conter o choro diante da tragédia humana produzida pelas drogas, ou, melhor, de que as drogas são frutos das tragédias humanas. Sim, elas se apresentam como antídoto ao mau estar de não ser, não ter, não pertencer, mas não são incapazes de preencher o vazio e de fato o ampliam. Drogas são o engôdo, a imitação dos poderes mágicos dos deuses perdidos na mitologia. Entram onde o vazio humano é insuportável, mas não o preenchem. Ao contrário, destroem o senso humano de percepção do próprio vazio, criando a ilusão de tê-lo superado. O preço, porém, é a submissão, a desordem psíquica, o caos e a destruição do ser.
Eis que a segunda fase havia se cumprido em minha vida! Eu rompi a casa dos 60 e meus pés pisam firme no último degrau da escalada.
Parar jamais!
O conhecimento das leis humanas (frutos da petulância humana se auto regrar e regrar aos outros) são minha nova investida. O Direito é minha nova busca de recursos para promover a inclusão a quem se sente alijado pelo sistema.
Estou indo na reta final, numa jornada de mais 30 anos.
Vamos seguir pareados e regozijar com a festa da vida!
Bem, depois de divagar em sonhos intuitivos, reveladores, quase sonabúliccos durante a madrugada, a compor uma retrospectiva da minha jornada, não restou outra alternativa a não ser registrar o que vi, intuí e compreendi.
Um grande dia à todos!
Minhas divagações ora me acalentavam, ora me desapontavam. Minha memória filtraram cenas do passado e me fizeram constatar que os primeiros 30 anos