Ricardo Stucker
Josias de Souza 0
A plateia pouco pode fazer contra o derretimento econômico e moral da administração pública. Isso não significa que, além de ser tapeada, tenha que ser tratada como uma plateia estúpida. A presidência de Dilma encontra-se na UTI. Deve-se a Lula boa parte da septicemia que paralisou o governo. Foi ele quem criou a fábula da gerentona. Foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão.
A despeito de tudo isso, Lula acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. E ainda se julga autorizado a fazer o papel de clínico geral. Afirma que a roubalheira não pode afetar a “governabilidade do país.” E sustenta que a ruína econômica é banal: “É como uma febre de 39 graus. Alguém morre por causa disso? É só tomar um remédio e pronto!”
Lula fez o diagnóstico numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial: “Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos resolver os problemas econômicos.”
Ainda que a plateia fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista, Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?
Ninguém lembra o que Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria. Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.
Como diz o vice-presidente Michel Temer, “ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil.” Só há uma maneira infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.