ALEX SOLNIK
:
Os brasileiros que eram adultos em 1992 jamais questionaram se Collor deveria cair ou não porque tinham certeza que ele estava envolvido em corrupção. Só a tropa de choque dele o segurava. E tinham outra certeza: o vice era honesto.
Podia se dizer tudo contra Itamar, que era provinciano, que era mão de vaca, que era antiquado, que era gay – talvez porque seu nome em código fosse Shirley – mas desonesto, nunca.
Até mesmo seu comportamento durante o processo contra Collor contrasta profundamente com o do vice atual. Itamar jamais formou qualquer governo antes de Collor deixar o palácio, jamais usou o seu cargo para conchavar votos a seu favor pois, assim como hoje acontece com Temer, ele seria o beneficiado se o impeachment vingasse.
Itamar jamais foi visto como traidor ou conspirador porque nunca foi. Ele não queria o poder a qualquer preço. Deu tempo ao tempo. Esperou Collor desvestir a faixa presidencial para formar um governo de união nacional que recolocou, aos poucos, o Brasil nos trilhos. Isso foi possível porque Itamar não liderava um grupo de piratas à espera de o navio afundar para assaltar o depósito de cargas.
Tal como em 1992, os brasileiros estão revoltados com a corrupção, não aguentam mais ver o dinheiro que dão ao governo em forma de impostos ser tragado por quadrilhas de canalhas que o lavam e mandam para paraísos fiscais, enquanto o país continua ardendo nas chamas do inferno.
Aí está a diferença entre 1992 e 2015: a população não confia no que vem depois se Dilma cair. A população já sabe que Eduardo Cunha tornou-se, em apenas um ano de protagonismo, o Darth Vader da política brasileira. Do Temer, que sempre viveu mais nas sombras e que somente há poucos dias assumiu o Lado Obscuro da Força, já se começa a desconfiar porque de vez em quando seu nome pipoca nos depoimentos da Lava Jato e, pior que isso, ele protege ostensivamente Cunha, dando a clara impressão de que é seu parceiro. Mais que parceiro, seu vice. A quem vai continuar protegendo se assumir. E ninguém quer ver um Darth Vader na vice-presidência da República. Ninguém aguenta mais a corrupção.
Teve seu lado bom a súbita revelação de que o ex-aliado que foi eleito graças aos votos dados a Dilma e não a ele passou a formar seu governo de dentro do seu palácio enquanto Dilma luta para mantê-lo, mudando a sua imagem de “procurador”, “ponderado”, “equilibrado”, “republicano” para “traidor”, “conspirador”, “parceiro de corrupto”.
Talvez seja esse um dos motivos da cada vez menor adesão dos brasileiros às manifestações anti-Dilma. Tirá-la não vai ser uma vitória da luta contra a corrupção, mas uma derrota. Eles desconfiam que, se aderirem, em pouco tempo terão de voltar de novo às ruas para gritar “Fora Temer”! e “Fora Cunha”!