Fernando Duarte
Da BBC Brasil em Londres
Ugaz: “Legao não serve como justificativa para a corrupção”
O presidente da ONG Transparência Internacional, o jurista peruano José Ugaz, elogiou a operação da Polícia Federal que teve como alvo nesta sexta-feira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à BBC Brasil, por telefone, Ugaz, opinou que a Lava Jato está sendo um caso positivo de combate à corrupção não apenas no país, mas na América Latina.
“Claro que ainda estamos falando de acusações que precisam ser investigadas e provadas, e que a investigação tem que ser mais profunda. Mas este já é um caso emblemático para a região. A Lava Jato está chegando aos altos escalões no Brasil. E mostra que o combate à corrupção não deve levar em conta a importância política ou econômica de ninguém”, afirmou o peruano.
Polarização
Ugaz fez parte das investigações que em 2000 forçaram o então presidente do Peru, Alberto Fujimori, a fugir do país para não ser preso.
O jurista deixa claro que a situação é bastante diferente da vivida por Lula, que sequer foi acusado formalmente em meio às investigações do escândalo de corrupção da Petrobras. Mas o peruano diz temer que o carisma e o histórico do presidente se tornem um atenuante a uma investigação mais contundente.
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“O escândalo da Petrobras está mostrando que a corrupção é como o câncer e não distingue ideologia ou classe social. Lula foi um presidente de esquerda que ficou conhecido pelas bandeiras sociais, mas este legado não serve de justificativa contra a corrupção”.
Ugaz disse ainda não ter receio de que a polarização política no Brasil torne a Lava Jato uma “caça às bruxas”.
“Uma investigação tem que ser totalmente independente de posições políticas, e temos confiança no Judiciário brasileiro para garantir isso. Apoiamos o trabalho do juiz (Sérgio) Moro e estamos acompanhando de perto o caso”, completou o peruano.
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Lula foi alvo da Lava Jato nesta sexta-feira
Sediada na Alemanha, a Transparência Internacional fez um intensa campanha pública sobre o caso Petrobras, que ficou em segundo lugar em uma votação promovida no final do ano passado para uma espécie de “Oscar da corrupção”. O caso perdeu a enquete popular para o do ex-presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, que foi deposto por um levante popular em 2014.
Nos últimos dias, a ONG bombardeou suas contas nas mídias sociais com posts explicando o escândalo da Petrobras. Ativistas da Transparência Internacional também têm buscado informações sobre transações de empresas brasileiras citadas na Lava Jato em outros países latino-americanos e africanos.
“A crise política no Brasil hoje também é uma consequência dos efeitos que a grande corrupção tem na governabilidade dos países”, finaliza Ugaz.