Bem, amigos! Creio que todos leram aqui minhas aventuras relativas ao Caso Maravilha, partes I e II. Nessa nova narrativa encerro esse caso.
Quando achava que tudo estava concluído, os culpados presos, a jornada cumprida e que era chegada a hora de retornar para a Capital, eis que recebo mais uma missão: Localizar uma das principais testemunhas, um “mateiro” que havia sido detido e torturado na Delegacia para que confessasse o crime que na verdade havia sido praticado pelos seus próprios algozes.
O homem, de nome Ezaú, tinha sido detido aleatoriamente quando passeava pela sede do município num final de semana. Ele resistiu às sessões de espancamentos que lhe deixaram sequelas, mas estava revoltado – e não sem razão – e prometia para si mesmo e com apoio de seus colegas de trabalho, que se a Polícia voltasse a procurá-lo, seria recebida a bala.
Foi nesse clima de hostilidade que recebi a ordem para localizá-lo e trazê-lo para prestar depoimento. Para essa missão fui conduzido num Jeep da Prefeitura local, cujo motorista, Seu Antonio, estava muito ansioso e assustado, dizendo que seria loucura entrar na mata onde o tal homem estava trabalhando numa empreitada. Dizia: – Eles estão armados e muito revoltados com a Polícia. Você sozinho não vai ter chances. Isso é loucura!
Na saída da cidade ofereceu carona a uma senhora, moradora de um sítio que avizinhava a região onde eu teria que localizar o tal Ezaú. Sabendo da minha missão ela também desaconselhou: – É muito perigoso para o senhor, pois meu marido encontrou com alguns deles na vendinha e eles disseram que policiais serão recebidos à bala. Contudo eu estava certo de que não correria risco, embora estivesse um pouco preocupado também.
Depois de termos percorrido, salvo engano, 32 quilômetros de uma estrada muito estreita e de chão natural, chegamos ao ponto onde iniciaria a trilha que levaria até o acampamento dos peões, localizado a aproximadamente 4 quilômetros floresta adentro. Seu Antonio parou o Jeep e, muito nervoso, mais uma vez tentou me demover as ideia de seguir adianta na missão, mas eu havia recebido uma ordem e a cumpriria. Disse-me então o homem: – Deixo você aqui e vou seguir até a vendinha que fica há uns três quilômetros adiante. Volto daqui a umas duas horas para apanhá-lo, mas se não estiver aqui eu é que não fico prá saber o que aconteceu. Estava visivelmente nervoso e ansioso.
Desci e entrei na mata, portando um rifle e o velho Taurus 38, com os mesmos 5 cartuchos citados na narrativa anterior e fui seguindo a trilha. Depois de um bom tempo de caminhada comecei a ouvir barulho de motosserra e outros ruídos vindos do acampamento. Confesso que o coração acelerou e fiquei tenso, pensando em como deveria agir. Verifiquei minha munição, mas “de que me valeria?” – pensei!
Ocorreu-me que armado eu correria mais riscos, uma vez que eles também se sentiriam ameaçados e poderiam atirar primeiro. Eu não teria chance contra os vários homens que lá se encontravam. Tomei a decisão de esconder as armas em meio à floresta e segui em frente. Não tardei a vislumbrar a clareira onde ficava o acampamento. Já era possível ouvir vozes. Seu Antonio tinha me fornecido o nome do “gato”, ou seja, o encarregado dos trabalhadores. Parei numa baixada e gritei pelo nome do tal homem e também pelo nome de Ezaú. Pouco a pouco percebi que os ruídos cessavam e não demorou para que eu visualizasse dois homens armados descendo cautelosamente pela trilha. Eu, mostrando as mãos vazias, disse a eles: – “Estou sozinho e não tenho arma. Sou da capital e vim aqui para dar uma boa notícia ao Ezaú. Os policiais que o torturaram já estão presos”.
Citei os nomes do Delegado e dos dois agentes que haviam sido detidos e contei a história em detalhes. Outros peões apareceram, desconfiados, mas me chamaram para acompanha-los. Pouco depois eu tomava café com eles no acampamento.
Aproveitei a descontração e revelei que era policial, mas que estava a favor deles, pois que tinha sido enviado para desvendar o caso e colocar tudo a limpo, mas precisava que o Ezaú me acompanhasse. Falei sobre o Seu Antonio que estaria me esperando e que se quisessem poderiam nos acompanhar até o embarque na estrada.
Nesse momento chegaram outros 4 homens que teriam isso até a estrada, esgueirando pela mata, para ver se realmente eu não estava preparando uma armadilha. Depois de confabularem entre si aconselharam ao Ezaú a me seguir, acompanhado por dois deles até a estrada. No caminho revelei onde estavam minhas armas e que iria que pegá-las e assim fiz.
Enfim, não houve nenhuma animosidade além da desconfiança inicial, mas que foi superada com jeito e conversa. No final do dia eu estava de retorno com a testemunha e registrado mais uma aventura que permaneceria na minha memória até os dias de hoje.