Francisco Alves Cipriano – Nossos nomes estão gravados no livro do Eterno Ser.

WhatsApp
Facebook
Twitter

 

Mais uma das minhas histórias referentes às dificuldades enfrentadas pela nossa polícia civil principalmente por mim.

Nós policiais do ex-território que não havia feito academia, nos anos 1984 ou 1985, tinha que fazer uma reciclagem na academia de polícia, então éramos trinta agentes das delegacias da capital e de cidades do interior do estado.

Naquela época devido aos salários muito baixos, dos trintas policias, a maioria não possuía veículos para sua locomoção e ia de ônibus até o 5º DP e daí até a academia ia mesmo a pé já que não existia transporte publico até ali. Ao retornar ficava mais fácil, pois os poucos automóveis ficavam cheio de caronistas, mas como tinha muitos atoleiros pela Avenida. Amazonas, nós adentrávamos por dentro do bairro Jardim Ipanema e vínhamos sair no 5º DP.

 Na academia as palestras eram dadas por autoridades ligadas a segurança pública, eu não lembro o nome de todas as autoridades, recordo apenas dos nomes: Dr. Telmo Forte e Dr. Esmone.

Dr. Telmo Forte deu uma palestra e alguns policias ficaram insatisfeito, porque se sentiram ofendido pelo palestrante e foram até o diretor da academia levando suas queixas, não sei qual o assunto e até gostaria de lembrar para poder explicar melhor, tanto que quando o Dr. Telmo Forte retornou para dar mais palestra, o diretor da academia levou o assunto até aquela autoridade e ele se sentiu constrangido, porque como ele disse que em momento algum teve a intenção de ofender alguém, pois ele tinha muito respeito pela classe, assim mesmo ele deu a palestra mais “desafinada” que já ouvi.

Já a palestra do Dr. Esmone, eu me recordo muito bem, de quando ele disse que os policiais do ex-território de cada dez prisão efetuadas, nove era de forma ilegal. Fiquei preocupado, com medo de uma punição ou mesmo de uma demissão, porque nós estávamos ali não era tanto pelos salários, pois era muito baixo, mas sim, com a coragem de reprimir o crime antes fosse tarde demais e assim a gente ficava meio perdido, porque coragem e medo não podem andarem de braços dados, pois não combinam.

Finalmente vou deixar o esse assunto de lado e vou me remeter aos salários daquela época. Eu tinha um táxi e no ano de 1982, eu trafegava pela Av. Amazonas no Bairro Nova Porto Velho, eu vi um colega taxista conversando com alguns garimpeiros e encostei o carro e fui lá conversar também com os mesmo, porque eram garimpeiros conhecidos e nós havíamos trabalhados junto no Garimpo do Imbaúba e Jirau no Rio Madeira no ano de 1980, quando tudo era também muito difícil, só tinha apenas a Estrada do Caldeirão, no qual tinha que subir de voadeira até Cachoeira do Jirau e tínhamos que juntar vários homens para pegar aquele pesado motor e subir o barranco do Rio Madeira, atravessar a Cachoeira do Jirau para poder chegar ao Garimpo do Imbaúba.

 No meio da conversa com os taxistas   foi quando um colega taxista disse que eu CIPRIANO estava na polícia, daí a conversa mudou e eles queriam saber como funcionava o trabalho, achando que não combinava com o meu perfil, pois eu era muito calmo e na polícia era muito agitada e perguntaram quanto eu ganhava… fiquei com vergonha de dizer, porém resolvi falar a verdade e disse que meu salário era vinte três mil oitocentos e quarenta cruzeiros. Foi aquela gozação e pior foi quando eu disse que na minha casa tinha um pedreiro trabalhando e eu pagava cinco mil cruzeiros a diária, aí foi gargalhadas e mais gargalhadas, porque fazendo as contas o meu salário de um mês, não dava para pagar uma semana de serviço de um pedreiro.

O fato é que as dificuldades não ficavam por aí e aconteceu uma separação. Fiquei apenas com o taxi e eu estava devendo o mesmo, pois eu havia comprado o carro financiado e juntando salário e a renda do táxi só dava para pagar a prestação, fiquei morando de favor e o dinheiro não dava para comprar mais nada e assim fiquei uns três ou quatro meses tomando água natural, porque eu não tinha condições de comprar uma geladeira.

Certo dia, eu criei coragem e fui ao comercio tentar comprar uma geladeira, mas o vendedor quando olhava a minha carteira de trabalho e via o meu salário já não queria mais nem conversa e virava as costas  E assim ainda fui em três lojas, porém o atendimento era sempre o mesmo. Em determinado, momento eu lembrei que eu conhecia um vendedor que trabalhava na loja A Pernambucana e que ele poderia me ajudar. Dirigi-me para lá e fui direto falar com ele, contei o meu problema e o mesmo pediu a minha carteira de trabalho e quando olhou, já me antecipou que achava muito difícil o gerente autorizar a venda, mas ele ia ver se poderia me ajudar e então  foi até o seu  gerente e contou o meu problema e ele o gerente mandou que eu entrasse na sala e estando ele com minha carteira de trabalho na mão, me olhou e disse que com aquele salário não dava de comprar a geladeira mais simples que tinha disponível no estoque da loja.

 Depois dessa fala do gerente desanimado já pensava em bater em retirada e ele com certeza compadecido da situação, autorizou a venda  em dez prestações, então eu falei que tinha outra fonte de renda, já que possuía um taxi e ele respondeu que não queria saber de outra renda, queria saber do que tinha na carteira.

Para mim foi uma travessia muito difícil, imagine quem me deu uma mãozinha inacreditável, mais é verdade foi a Dona CERON a empresa elétrica, pois ela passou nove meses sem me cobrar a conta de luz da minha casa e quando me cobrou foi tudo de uma vez, porém eu já estava em melhores condições financeiras, já havia comprado muitas coisas que precisava e graça à Deus e Dona Ceron.

Os policiais mais antigos ganhavam lá estas coisas, porque alguns colegas com mais de quatro anos de serviço, ganhavam mais do que eu. Nós recebíamos nossos vencimentos no banco Itaú, na agência da Av. Sete de Setembro, c/ a praça marechal Rondon. Naquele tempo, bem poucos policiais tinham conta bancária e recebia mediante o contracheque, a gente ficava na fila das cinco horas da manhã muitas vezes até as dez para receber muitas vezes sem tomar sequer café, não era porque não queria, era exatamente porque não tinha, muitas vezes o pó e o pão.

Um colega que não vou identificar, dizia que quando estava na fila para receber e estava chegando ao caixa, olhava para trás e  se tinha alguém conhecido,  ele mandava passar na frente, para que a pessoa não visse o salário dele e quando o caixa colocava seu salário no balcão, ele de imediato colocava a mão em cima e saia de porta afora quase correndo e quando chegava no centro da praça Marechal Rondon, ele olhava para os lados para ver se não tinha alguém por perto e aí ele contava aqueles chamados couros de ratos, separava a parte de pagar a taberna, onde ele comprava fiado o mês inteiro e em seguida dava uma passada no mercado central logo ali perto e comprava um peixe, algumas latas de conservas e uns dois quilos de farinha e em seguida ia para casa e chegando lá a esposa preparava aquele pirão, ele almoçava junto com a família e retornava para dar continuidade no plantão.

Foram momentos bem difíceis, mas nos enfrentamos de cabeça erguida, porque éramos vocacionados e tínhamos a certeza que estávamos fazendo o bem a nossa sociedade. Como diz um dos versos da nossa Polícia Civil de Rondônia ‘Nossos nomes estão gravados no livro do eterno Ser”.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Últimas Notícias

Screenshot_20241010_083144_WhatsApp
Nesta sexta-feira, café da manhã no Sinpfetro
IMG-20240918-WA0281
Luto - Renato Gomes Abreu
Screenshot_20240916_193205_Gallery
Luto - Mauro Gomes de Souza
Screenshot_20240804_200038_Facebook
BEE GEES E O BULLYING - Jair Queiroz
Screenshot_20240730_075200_WhatsApp
Nota de pesar - OLINDINA FERNANDES SALDANHA DOS SANTOS
Screenshot_20240718_121050_WhatsApp
Luto - Adalberto Mendanha
Screenshot_20240714_160605_Chrome
Luto - Morre Dalton di Franco
Screenshot_20240702_125103_WhatsApp
Luto - Cleuza Arruda Ruas
Screenshot_20240702_102327_WhatsApp
Corpo de Bombeiros conduz o corpo do Colega Jesse Bittencourt até o cemitério.
Screenshot_20240701_163703_WhatsApp
Luto - Jesse Mendonça Bitencourt

Últimas do Acervo

Screenshot_20241020_205838_Chrome
Dez anos do falecimento do colega, Henry Antony Rodrigues
Screenshot_20241015_190715_Chrome
Oito anos do falecimento do colega Apolônio Silva
Screenshot_20241005_173252_Gallery
Quatro anos do falecimento do colega Paulo Alves Carneiro
Screenshot_20240929_074431_WhatsApp
27 anos do falecimento do José Neron Tiburtino Miranda
IMG-20240918-WA0281
Luto - Renato Gomes Abreu
07-fotor-202407269230
Vário modelos de Viaturas usadas em serviço pela PC RO
Screenshot_20240831_190912_Chrome
Dois anos da morte do colega Aldene Vieira da Silva
Screenshot_20240831_065747_WhatsApp
Quatro anos da morte do colega Raimundo Nonato Santos de Araújo
Screenshot_20240827_083723_Chrome
Quatro anos da morte do colega Altamir Lopes Noé
Screenshot_20240811_181903_WhatsApp
Cinco anos do falecimento do colega Josmar Câmara Feitosa

Conte sua história

20220903_061321
Suicídio em Rondônia - Enforcamento na cela.
20220902_053249
Em estrada de barro, cadáver cai de rabecão
20220818_201452
A explosao de um quartel em Cacoal
20220817_155512
O risco de uma tragédia
20220817_064227
Assaltos a bancos continuam em nossos dias
116208107_10223720050895198_6489308194031296448_n
O começo de uma aventura que deu certo - Antonio Augusto Guimarães
245944177_10227235180291236_4122698932623636460_n
Três episódios da delegada Ivanilda Andrade na Polícia - Pedro Marinho
gabinete
O dia em que um preso, tentou esmurrar um delegado dentro do seu gabinete - Pedro Marinho.
Sem título
Em Porto Velho assaltantes levaram até o pesado cofre da Padaria Popular
cacoal
Cacoal nas eleições de 1978 - João Paulo das Virgens