Jair Queiroz – O caso Maravilha (1ª Parte)

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O caso Maravilha (1ª Parte)

(Neste relato omiti o local e nomes por envolver pessoas do nosso círculo, alguns que ainda estão em ação, exceto os que foram condenados)

No ano de 1984, enquanto atuava na ACADEPOL, fui convocado às pressas para comparecer ao Gabinete do Secretário Humberto Morais de Vasconcelos e chegando lá estavam, além do secretário, o Diretor Geral e o Diretor da Acadepol, Dr. Antônio Amaro da Silva.

Era por volta das 16h e recebi a seguinte ordem: – “Vá para casa agora e prepare-se para viajar hoje à noite para uma cidade do interior. Leve roupa para três dias e as demais orientações você receberá no momento certo.

À noite, eu e Diretor Antônio Amaro embarcamos num ônibus, e seguimos rumo a tal cidade, onde fomos recebidos por Policiais Militares que nos conduziram até a base da PM, onde ali ficaríamos hospedados.

Depois de algum tempo reunido com o comandante da unidade militar o diretor Amaro  me chamou e só então soube que se tratava de uma investigação sobre a suspeita de envolvimento de policiais em um homicídio. Entendiam os militares que os civis estavam distorcendo os fatos e acusando pessoas da comunidade, pressionando-as a assumirem o crime, causando contrariedade na comunidade local e provocando um clima tenso entre as duas instituições.

Foi-nos relatado que uma senhora, moradora de um sítio, frequentadora assídua da Igreja Católica local, contou ao Padre um fato que ensejava que os policias poderiam estarem  envolvidos num determinado crime, pois ela teria escutado tiros por volta das cinco da manhã, quando ordenhava suas vacas e ao subir na cerca do curral para ver se haviam caçadores nas proximidades, viu a viatura da PC se afastando rapidamente, Sendo que  três dias depois foi encontrado o corpo de um homem com perfurações à bala.

Nenhuma pista foi encontrada no local e já haviam decorrido 27 dias do fato. O corpo havia sido enterrado no cemitério local, sem caixão, apenas enrolado num lençol e o laudo médico apontava também para esfacelamento do crânio da vítima, o que causava ainda mais indignação da sociedade local. A vítima se tratava-se de um homem jovem, sem familiares, alcunhado de Maravilha.

Diante daquelas evidencias o padre da Paroquia passou a acusar a PC em suas pregações e a população exigia providências. A PM pôs uma equipe em ação, mas, segundo seus relatórios, não se constatava nenhum esforço por parte da PC em elucidar o caso, aumentando assim as suspeitas.

Na manhã do dia seguinte da nossa chegada, iniciamos nosso trabalho usando a “estória cobertura” de que estávamos na cidade para divulgar um concurso que ocorreria em breve na ACADEPOL, enquanto o objetivo real era a investigação. Secretamente ouvíamos as testemunhas, algumas na cidade, mas a maioria na zona rural. Enquanto o Delegado as inquiria eu apenas observava. Nisso fiquei livre para focar a atenção nos trejeitos e falas e assim percebi que sempre que o nome de determinado APC era mencionado o condutor de viaturas que nos acompanhava parecia ficar tenso e irrequieto.

No quinto dia, ao retornarmos à base, fiquei por alguns momentos conversando com ele quando de repente, demonstrando ansiedade, ele disse: – Éh… tá difícil encontrar alguma pista, né? Respondi: – Não, não! O Delegado já tem quase certeza de quem é e vai pedir a prisão dele e de outros que tem participação indireta no crime. Com espanto ele perguntou: – Participação indireta! Como assim? e eu respondi: – Ele acha que alguém sabe quem foi, mas está escondendo. Já tem ideia de quem é vai pedir a prisão dessa pessoa também.

Ele falou com voz bem embargada que se soubesse diria, pois não iria ser preso para encobrir mal feito dos outros. Ficou tenso, de cabeça baixa e nervoso. Nesse momento eu disse que iria rapidamente ao banheiro, mas na verdade fui ter com o delegado e contei o ocorrido, dizendo que não tinha dúvidas de que o rapaz sabia de tudo. Ele mandou que o chamasse. Ele chegou pálido, completamente apavorado.

Dr. Amaro perguntou: – (Fulano)…você sabe quem foi que praticou esse crime? – Não senhor…não sei! O Delegado deu murro na mesa e gritou: – “Você tá pensando que aqui tem otário, seu moleque! Fale logo antes que eu faça você falar na marra!” Não precisou mais nada! Ele contou os detalhes do crime praticado de forma fria e covarde por dois agentes embriagados, contra o “peão de trecho”, mais embriagado ainda.

Ele os teria ajudado liberando a chave da viatura, porém agiu sob ameaça e por medo não os delatava. Sua preocupação com o APC que era mencionado durante as inquirições, era porque tinha conhecimento da inocência dele e até o admirava, temendo, portanto, que fosse injustamente envolvido. Tomadas todas as providências, sem levantar nenhuma suspeita, aguardamos a chegada do Secretário Humberto M. Vasconcelos e outro delegado, do qual não me recordo, mas creio que era o Dr. Mendanha e foi dada voz de prisão aos suspeitos. Esses por sua vez incriminaram também a autoridade policial local, que os teria protegido para não ser delatado por eles que sabiam do seu envolvimento com criminosos de uma quadrilha que roubava carros. Ele foi preso na manhã seguinte ao chegar à Delegacia.

OBS: Oportunamente a segunda publicaremos a segunda parte desta história

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