Aconteceu em 1983 na Delegacia de Presidente Médici, eu Damasceno, Gilberto Rosa, Durval de Souza Moreira e Anselmo Rabelo, todos hoje já aposentados. Naquela ocasião, recebemos uma denuncia que numa determinada linha, o Senhor Antonio, que tinha uma pequena propriedade não era visto há três dias por ninguém nos bares da localidade e outros locais públicos.
Ao chegar tal informação na delegacia, o saudoso delegado Eliomar Abrantes de Souza, determinou que fôssemos até a propriedade do desaparecido. Seguindo então uma equipe, composta por mim, Anselmo, Durval de Souza e Sebastião Lacerda mais conhecido por Capixaba.
Ao chegarmos a distante propriedade, contatamos com a esposa do desaparecido uma senhora de cerca de 45 anos com semblante bem sofrido e envelhecido. Como ela vivia com o desaparecido Antonio, começamos a indagar a mesma sobre seu marido e esta a principio muito nervosa e relutante, dizia nada saber, mas diante das perguntas bem embaraçosas e com a nossa ameaça de fazer uma revista no terreno, resolveu então falar que havia contratado duas pessoas para eliminar o seu esposo, ou seja, os pistoleiros Geraldinho e Davi.
De posse dessa informação e com o encontrado numa cova rasa acionamos a pericia e remoção do corpo e em seguida iniciamos a diligencia para que os criminosos não fugissem do local palco dos acontecimentos.
No dia seguinte, deslocamos logo cedo em busca do Davi num carro da Sucam com tração nas quatro rodas, em razão das péssimas condições da estrada e cercamos muito cedo o seu barraco, entrando pela porta dos fundos, quando o surpreendemos, achando inclusive um revolver 38 debaixo do travesseiro do mesmo.
Logo após a prisão fizemos um verdadeiro jogo de palavras dizendo a ele Davi, que a casa tinha caído e que Geraldinho já tinha entregado todo o jogo, dizendo ser ele Davi o idealizador de tudo, oportunidade que o mesmo se mostrou bem irritado, dizendo que iria matar ele Geraldinho.
Feita a prisão fomos para a BR e de lá levamos o Davi que da BR foi levado para Delegacia de Presidente Médici pelo colega Capixaba e como na época novembro estava tudo alagado, pegamos um barco até a fazendinha de Geraldinho a cerca de 30 quilômetros de áreas alagadas e chegamos lá a noite por volta das 19 horas, pernoitamos num barraco e pela manha, por volta das 6 horas, o prendemos o mesmo com um revolver na cintura, tirando ele leite de umas vacas e fizemos com ele o mesmo jogo, dizendo que Davi já havia entregue o jogo e ele é que tinha esquematizado tudo.
Com Geraldinho preso, caminhamos muitos quilômetros até a beira do Rio e de barco voltamos para Presidente Médici, num trabalho de três dias sem sequer recebermos diárias, como quase sempre acontecia, naquela época, ou seja, o dinheiro era muito curto, pois até mesmo as refeições fazíamos de favor nas propriedades ao longo do caminho.
A senhora esposa do morto, justificando a morte, alegou que só mandou matar o marido porque ele era muito mal e batia muito nela e quando embriagado fazia a mesma até mesmo ingerir fezes de galinha.
Como logo em seguida fui lotado na capital Porto Velho, os colegas que lá ficaram informaram que em júri realizado posteriormente na comarca de Ji-Paraná, a senhora mandante foi absolvida, em razão do pedido do promotor público, ocorrendo então que o Conselho de Sentença decidiu pela sua absolvição por unanimidade, pois promotor e jurados consideraram que ela era na verdade a grande vitima desse triste episódio, que culminou com a morte do seu marido Antonio, pois foi esse o único caminho que ela encontrou para se safar dos muitos abusos
A Justiça foi feita e eu mais os policiais Anselmo, Durval de Souza Moreira e Sebastião Lacerda Amorim, ficamos muito orgulhosos desse trabalho, que apesar de todas as dificuldades culminou com muito êxito e encheu a todos nós de orgulhos, mesmo sendo todos nós policiais novos, com pouco mais de um ano de atividade profissional, mas fazíamos tudo com muito amor e dedicação.