Pedro Marinho, conta a sua história na polícia

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Quando cheguei a cidade de Guajará-Mirim no Início dos Anos 80, a mesma já estava há muitos anos sem delegado de polícia, já que ninguém aceitava ser lotado ali, em razão do forte tráfico na fronteira com a Bolívia e do garimpo muito trabalhoso com milhares de garimpeiros atuando  nas imediações da cidade.

Em razão da falta de um delegado quem exercia tal responsabilidade, era o agente administrativo, o saudoso Américo Abiorana, que posteriormente foi transposto para agente de polícia.

Apesar dos cuidados de Américo e dos bons quadros ali lotado, eles os policiais, desejavam alguém que nas dificuldades o apoiassem, pois se sentiam inseguros para o exercício das atividades policiais. Logo na primeira reunião realizada, disse aos mesmos que agissem sem nenhum receio de eventuais poderosos da região,  sendo tal promessa literalmente cumprida, pois todas as vezes que ocorreram dificuldades no exercício do trabalho, ou choques com as autoridades locais, sempre me posicionei a favor dos policiais, estando muito deles vivos e  assim poderão confirmar estas minhas colocações.

Mas vãos a história, certo dia, o policial Apolônio Silva, mais conhecido por todos como Vaca Brava e que solitariamente trabalhava no Distrito de Surpresa como subdelegado, bastante aflito, passou um rádio em que pedia para falar comigo. De pronto atendi o mesmo que me relatou que estaria se sentindo desmoralizado, pois um reservista, recém saído do Exército, havia desacatado ele Vaca Brava, em razão de um som alto que estava sendo reclamado pelas freiras, informou ele que tinha ido até o local, para pedir ao barulhento para diminuir o volume, tendo o dito cujo se rebelado e sem respeitar o servidor e muito menos a idade do mesmo, informado que não diminuiria o volume e ainda na presença de todos, utilizando palavras de baixo calão, mandou o policial para a PQP.

Naquela oportunidade, ainda no rádio Vaca fez ver que estava se sentindo desmotivado e desmoralizado e sem condições de permanecer naquela localidade, pois como trabalhava só, no momento de agressão verbal, só teria um caminho, sacar sua arma e fazer valer a sua autoridade, mas ai tinha pensado na sua esposa Emilia e no seu filho pequeno, razão porque optou em não reagir. Disse ainda que depois dessa desmoralização preferiria deixar a localidade de Surpresa, me solicitando um substituto, quando então disse ao mesmo que se alguém tivesse que deixar aquela localidade, com certeza não seria ele e que o mesmo ficasse quieto pois eu com alguns policiais estaríamos chegando ali para localizar e prender o atrevido, o que de fato foi feito, ainda no mesmo dia, utilizando uma voadeira, eu, Eguiberto e Lucena, enfrentamos seis horas de viagem subindo o rio até chegar a localidade.

Em Surpresa, verificamos que Vaca tinha falado demais e o sujeito estava foragido, havia se embrenhado no mato, ate que o encontramos escondido num sitio abandonado e o levamos para o centro da vila para que todos vissem quem realmente mandava e que, portanto, mereceria todo respeito. Na presença dos moradores, demos aquele tratamento vip no mesmo, o algemamos e o fizemos entrar no barco até Guajará-Mirim, ele apavorado pedia para não ser morto.

De volta a Guajará, novamente tivemos aquela conversa amistosa com ele e o trancafiamos na solitária, até o dia seguinte para lavratura do flagrante o que efetivamente foi feito e ao liberar o mesmo o avisei que se chegasse a Surpresa e olhasse ao menos de lado para o subdelegado, a sua situação iria piorar muito, pois quando nos subíssemos a sua situação ficaria bem ruim e, portanto ele que escolhesse o melhor para si.

Todo final de mês, Vaca vinha até Guajará para receber o salário e regressar e ao vê-lo me aproximei e indaguei sobre o abusado e como ele estava se comportando – aqui abro um parêntese, para dizer que em Surpresa só existia uma casa muito humilde para acomodar o policial e família, portanto não existia delegacia ou cela e os eventuais detidos, quase sempre bolivianos embriagados e alterados, se utilizando cordas, eram amarrados numa árvore – portanto depois da minha indagação, Vaca muito satisfeito, foi logo dizendo; ‘Doutor o homem agora virou uma pérola, Está até segurando os bolivianos para que eu os amarre.  Um amigão da Polícia. ’

Apolônio Silva, o Vaca, enquanto viveu não cansava de repetir tal história e agradecer muito e dizia que tinha na sala principal da sua casa, uma foto grande do lendário Capitão Alípio, com quem também tinha trabalhado e sempre pedia um foto minha para – segundo ele – colocar numa moldura e postar ao lado do Capitão Alípio, claro que nunca enviei e ele pedia tal foto minha a outras pessoas, tendo inclusive solicitado até mesmo a Airton Procópio, de quem era muito amigo.

O nosso querido Vaca Braba deixou muita saudade.

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