Em meados de 1987, eu me encontrava mais uma vez como Diretor de Policia Metropolitana e em razão da desordem reinante na DAT – Delegacia Especializada em Acidentes de Trânsito, fui chamado ao gabinete do então secretário Eurípedes Miranda, que disse da sua preocupação e que gostaria que eu assumisse e ajeitasse aquela especializada e caso eu a rejeitasse, ele iria conversar com o governador, para extinguir aquele órgão, motivos constantes de preocupações, para a sua gestão e que a partir daí cada delegacia apurasse os delitos de transito em suas respectivas áreas.
Ao ouvir esse seu pedido, fiz ver ao mesmo que na condição de diretor de polícia da capital seria muito desconfortável para mim, deixar a diretoria que assumi pela quarta vez, sem pedir a ninguém e ir trabalhar na DAT e, portanto se fosse convite eu não aceitaria, salvo se fosse dada como missão, tendo o secretário, na mesma hora aproveitado a deixa e dito que se tratava de uma missão que me estava sendo confiada, quando então disse ao mesmo que podia contar, pois iria assumir a DAT e iria tentar resolver todos os problemas, o que de fato aconteceu.
Chegando ali no primeiro dia já convoquei uma reunião com todo quadro funcional, falei da desordem do desaprecimento de peças e automotivas, liberação ilegais de veículos apreendidos e falei que aqueles que já me conheciam, sabiam que não tinha ido ali para brincadeira e se fosse preciso até mesmo colocar desonestos na Corregedoria, eu não hesitaria um minuto em fazê-lo. Ao terminar a minha apresentação cinco policiais imediatamente solicitaram deixar aquela repartição, sendo de pronto atendidos.
O fato é que corrigi as falhas da Delegacia, algumas muito graves, na oportunidade em razão do elevado número di inquéritos parados, solicitei cinco delegados, dez escrivães, alguns agentes e duas viaturas novas e passamos a trabalhar normalmente, passando o secretário Miranda a nos citar como bom exemplo nas suas andanças pelo interior do Estado.
Tudo corria bem, quando certo um dia um dos delegados me procurou dizendo que sua esposa se encontrava enferma na cidade de Guajará-Mirim e nos solicitou sua liberação a partir da quarta-feira, ficando ele de retornar apenas na segunda, sendo de pronto atendido.
Dois dias, eis que depois o Delegado Regional de Guajará, Adão Caetano, me telefonou para indagar se aquele delegado Fulano – Faço questão de omitir o seu nome – se encontrava em gozo de férias ? e diante da minha negativa, o mesmo me informou que eu tratasse de tirar aquele colega dali, pois ele estava bebendo tanto, que iria acabar o estoque de cerveja da cidade, sem falar na censura da população.
Diante dessa informação, nem preciso dizer da minha revolta e indignação, tendo de pronto solicitado a escrivã e também secretaria geral da Delegacia Marinete, que trouxesse ao meu gabinete as folhas de ponto e um lápis vermelho, tendo colocado falta no abusado servidor da quarta em diante e deixando os demais dias em aberto até o seu retorno, que só ocorreu na terça-feira seguinte, tendo eu antes de sua chegada colocado falta também na segunda-feira.
Na terça-feira, eis que o dito cujo de cara feia apareceu na minha sala e indagou como eu havia colocado quatro faltas na sua folha de ponto se tinha autorizado a sua ida a cidade de Guajará, tendo eu dito ao mesmo, que de fato induzido a erro tinha lhe concedido tal autorização, mas sabedor das suas farras nas mesas de bar daquela cidade, entendia que deveria puni-lo e o fiz.
Momentos depois o mesmo retornou a minha sala e informou que iria até o DGPC comunicar o ocorrido ao Diretor Geral e solicitar providencias contra a minha pessoa e em seguida se retirou. Momentos depois eis que o telefone toca e o diretor me pede para eu me dirigir ao seu gabinete o que fiz de pronto e em lá chegando, encontro o referido delegado com cara de choro e o diretor geral com a folha de ponto dele na mão e virando-se para mim foi logo dizendo: ‘Que é isso Dr. Pedro Marinho, não fica bem cortar o ponto de um delegado seu colega, quebra a hierarquia, reconsidere e abone as faltas do mesmo e assim daremos esse caso por encerrado.
Surpreso com a recomendação do diretor Geral fiz ver ao mesmo, que já tinha cortado pontos de outros delegados anteriormente e aquele delegado ali presente, tinha errado feio e se não fosse para colocar faltas em delegados, não seria legitimo colocar falta em nenhum servidor da SSP e que ele diretor com a sua autoridade, se assim entendesse o fizesse, ou seja, rasgasse aquele folha de ponto e assinasse outra para o servidor e me retirei da sala.
Cerca de duas horas depois, o tal delegado já chegou com a sua transferência para a então cidade de Vila Nova, onde iria atuar como único delegado, atendendo as ocorrências da cidade e aquelas oriundas dos garimpos.
Poucos meses depois eis que o secretário recebeu relatório da Polícia Militar, registrando que o trabalho em Vila Nova estava totalmente prejudicado, pois todas as vezes que as guarnições levavam alguma ocorrência, o delegado inexplicavelmente se encontrava flanando em Guajará-Mirim, gerando desgaste e tempo nos deslocamentos das viaturas até aquela cidade para adoção dos procedimentos policiais.
O fato é que o diretor geral, depois desse acontecimento ao me receber em seu gabinete, fez questão de pedir desculpas e me dizer que eu estava certo, pois aquela figura realmente não gostava de trabalhar e que tinha sido bem feito o mesmo ter tomado aquele prejuízo no passado, pois boa parte do seu salário havia sido descontada, em razão das quatro faltas que coloquei e a consequente perda das folgas do sábado e domingo, perfazendo, portanto seis dias descontados naquele mês.
Tempos depois esse mesmo delegado voltou a trabalhar sob o meu comando, mas diferente de outrora, passou a agir com bastante cuidado nos seus afazeres e obrigações e me perguntando sobre tudo que tinha que fazer no dia a dia. Penso que foi traumático mas aprendeu.