Pedro Marinho – O dia que tive que ouvir em cartório um surdo-mudo

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Ao tomar posse na Polícia, quando da transformação do território em Estado, confesso que me senti como um peixe fora d’ água, pois tinha apenas a formação oriunda da iniciativa privada como gestor de diversos hotéis na cidade de João Pessoa, um curso de graduação como bacharel em Direito e alguma prática como  aprendiz  em  jornal diário e nada, além disso.
Ao tomar posse e sem muitas delongas, me foi entregue numa caixa contendo um revolver novo, seis munições e o documento funcional como delegado de polícia, além de um memorando para que me apresentasse no 3º Distrito Policial, onde ficaria como adjunto, para na prática aprender  o difícil mister de como policial servir a coletividade.
Naquela unidade policial, já encontrei como titular o delegado Marcos Santiago e como adjunto o delegado Jório Ismael da Costa, ambos meus conterrâneos, sendo ali muito bem recebido por todos, delegados, agentes, escrivães e o pessoal administrativo.
Nos primeiros dias tendo como escrivão o excelente Manuelzinho, fiquei na sala do delegado Jório e ali acompanhava os depoimentos para assim aprender como fazer, o que perdurou por alguns dias, quando então, em determinado inquérito, Jorio se levantou da cadeira e mandou que eu ali sentasse e tomasse a termo em seu nome as declarações de uma pessoa. Confesso que foi um momento muito difícil, mas as duras penas consegui realizar a contento o trabalho que me fora confiado e a partir daquele dia, passei a presidir meus próprios inquéritos.
Certo dia o colega Jório se envolveu num acidente, pois abalroou uma bicicleta que tinha como condutor um surdo-mudo, que em razão do forte impacto subiu no capô do fusca e estraçalhou o pára-brisa do veiculo, sofrendo ele a vitima várias lesões, sendo socorrido para um hospital.
O inquérito sob a minha presidência vinha tramitando bem até o dia que tive que ouvir a vitima o surdo-mudo e ai o tempo esquentou, pois naquela época a língua brasileira de sinais Libra ainda era muito insipiente, pois se usava quase sempre a leitura labial, ou palavras incompreensíveis ditas pelo mudo. Por conta da dificuldade, nomeei então a irmã do mesmo como sua interprete, tendo em vista que ela em razão da convivência com o mesmo entendia muita coisa que ele balbuciava e iniciei a oitiva.
Cada pergunta que eu fazia ele o mudo se levantava para explicar e virava as cadeiras, derrubava o telefone, deitava no chão e até em cima da minha mesa, para explicar como tinha sido atingido pelo carro e rolado para cima do capô, a sua forma de se fazer entender era um verdadeiro horror.
Temeroso que até o final da sua oitiva, o mesmo terminasse destruindo toda sala do cartório, fiz que ele se sentasse junto de minha cadeira e fiquei e com uma mão manuseando o inquérito e com a outra segurando o mesmo por um dos seus braços até o final do depoimento, para que ele não se mais se levantasse, sendo  realmente foi muito duro contê-lo até o final, quando sob  risos de todos os presentes, finalmente exausto terminei aquele trabalho e pela primeira vez em um depoimento, foi como eu tivesse carregado um saco de cimento nas costas por muitos metros, pois além da preocupação em ditar para o escrivão,  tinha ainda que usando moderada  força segurar a irrequieta e escandalosa vítima. Para um noviço como eu, foi uma estréia exaustiva e surreal.

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