BEE GEES E O BULLYING – Jair Queiroz

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BEE GEES E O BULLYING
(Interpretação livre da música “I Started A Joke” )

Por: Jair Queiroz

A música citada no título foi um estrondoso sucesso da banda Bee Gees e sobrepujou o tempo, pois ainda hoje é apreciada por muitos, dentre os quais me incluo.

Viajando pelo passado através do You Tube ouvi pela duodécima vez a canção “I Started A Joke”, que em português significa “Eu comecei uma piada”.

Essa bela música foi gravada em 1968, mas a conheci em 1972, aos 13 anos, na casa da família do amigo Wilson Duarte que recém havia adquirido um “Sansui Garrard Gradient”, o top dos “toca discos”.

Embora eu não entendesse a letra no idioma inglês, sabia do conteúdo e me sentia tocado pela melodia.

Os Bee Gees desfizeram a banda em 1979, mas vez por outra navego na internet e revejo velhas canções, assim como foi hoje ao reencontrar e viajar ao passado.

Confesso que senti meus olhos umedecerem no trecho que diz:
“I startet a joke / Which started the whole world crying / But I didn’t see that the joke was on me / I starte to cry (…)

No idioma português esse breve trecho basta para assinalar a o drama que desenrolou: “Eu comecei uma piada / Que fez o mundo inteiro chorar / Mas não vi que a piada era eu / Eu comecei a chorar / O que fez todo mundo rir (…)

Uma piada, um gracejo mal recebido teria sido a causa da derrocada do personagem. O impacto gerado pelas críticas, somado ao efeito da autocrítica, teriam destruído sua autoestima e produzido profunda melancolia, enfim, um sentimento de “estar morto”.

Através dessa musica os Bee Gees, certamente sem esperar, se tornaram precursores ao alertar sobre os efeitos danosos da humilhação, da chacota e da zombaria, condição que em tempos recentes foi denominada “bullying” e remete ato de espezinhar, zombar, caçoar, menosprezar, enfim, humilhar alguém a ponto de causar-lhe sofrimento psíquico.

Uma simples “piada” teria gerado uma situação tão desconfortável que fez o personagem sentir como se o mundo inteiro risse dele e por sentir profundamente atingido pelos efeitos da própria piada, sentiu como se “o mundo inteiro tivesse chorado”, o que demonstra o peso do sentimento de culpa que o atingiu.

Na tentativa de divertir as pessoas, talvez com a intenção de ser sociável, tornou-se algoz de si mesmo. Sua fala havia repercutido de forma negativa, gerando vergonha e um sentimento de culpa que o fez sentir como se todos rissem dele.

E assim chegamos ao ponto culminante da análise de um tema conflitante, pois ambas alternativas nos remetem ao sofrimento do personagem.

De fato, a chacota, a zombaria, a ironia, são mesmo práticas cruéis e capazes de ferir o outro como se fossem armas.

Têm o poder de aniquilar a autoestima, a alegria, embotar os sentimentos e a vontade de prosseguir.

É essa prática nefasta que hoje chamamos “bullying” e suas expressões abrangem o simples gracejo repetitivo e contumaz, a tal “brincadeirinha”, mas que em verdade é usada para espezinhar e humilhar.

Essa pratica pode produzir na vítima sintomas de depressão, apatia social e induzir atos desconexos e severos desequilíbrios, com crises de fúria e outras reações imprevisíveis.

E há ainda um efeito oculto dessa prática que dificulta a compreensão dos danos devido a forma que se apresenta: É a “negação”! Significa que para o autor do bullying “não passa de uma brincadeira sem maldade”, mera diversão.

Dirá ele: “Todos brincam assim e nunca ouvi dizer que alguém que tenha sofrido por isso.”

Ele não percebe, mas aquele ex amigo que se tornou dependente químico, o outro que abandou a escola, um que brigou com os pais, rompeu com a família e passou a viver nas ruas, enfim, aquele que tomou uma atitude extrema na vida, pode, ter sido vítima da chacota, da gozação, enfim, do bullying.

Sentindo-se subjugado, desvalido, perdeu a vontade de ser e de existir.

Nessas condições o coração do sofredor pulsa, seus pés caminham, suas mãos seguram outras mãos, porém não passam de membros de uma massa física amorfa, destituída de vontade, alijada da autoestima.

BULLYING NÃO!!!
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
(O autor é policial civil aposentado, Psicólogo Clínico, Psicopedagogo, Bacharel em Direito, Especializado em Segurança Pública e coautor em dois livros sobre Psicologia e Psicopedagogia.)

Uma resposta

  1. Revi essa publicação e senti-me.gratificado mais uma vez. É uma honra figurar nas páginas dessa revista eletrônica para dividir pensamentos e devaneios literários com os colegas.
    Não sendo possível estar fisicamente entre todos, esse espaço minimiza a distância e possibilita o reencontro, mesmo que virtual.
    Abraço à todos e MUITO OBRIGADO!!

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