Candidato ao Planalto, Bolsonaro quer general como vice

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Ele estava inconformado com a demarcação contínua da reserva dos índios Yanomami, em Roraima, definida pelo Supremo Tribunal Federal. Desde antes de ir para a reserva, o general é convidado a entrar na política, mas nunca se filiou a qualquer partido. Agora, Bolsonaro quer, enfim, Heleno militante e pedindo voto.

O deputado Jair Bolsonaro (RJ) trocou o PP pelo Partido Social Cristão e já trabalha na sua pré-campanha ao Palácio do Planalto em 2018. Seu primeiro objetivo é convencer o general Augusto Heleno Pereira, ex-comandante militar da Amazônia e primeiro chefe da missão brasileira no Haiti entre 2004 e 2004, a concorrer como vice na sua chapa. Com bandeiras conservadoras, o parlamentar organizou uma agenda para fazer palestras e participar de eventos políticos em vários estados. Bolsonaro está de olho no mercado de votos que junta em torno das mesmas teses os cristãos evangélicos e os militares da reserva que serviram à ditadura militar (1964-1985). Seu principal lema na campanha será defender um choque de ordem para o Brasil.
O general Heleno é um dos mais respeitados oficiais do Exército. Encerrou a carreira em 2011, após 45 anos na vida militar, e em seu discurso de despedida defendeu o legado da ditadura militar. Quando ainda estava na ativa, classificou a política indigenista do governo do então presidente Luis Inácio Lula da Silva de “lamentável, pra não dizer caótica”. Ele estava inconformado com a demarcação contínua da reserva dos índios Yanomami, em Roraima, definida pelo Supremo Tribunal Federal. Desde antes de ir para a reserva, o general é convidado a entrar na política, mas nunca se filiou a qualquer partido. Agora, Bolsonaro quer, enfim, Heleno militante e pedindo voto.

Bolsonaro, capitão da reserva do Exército que deixou a farda na década de 1980 depois de organizar um protesto por melhores salários, é aliado da bancada evangélica do Congresso e se identifica com todas as teses deste segmento religioso. Ele é contra, por exemplo, projetos que tramitam no Legislativo e que permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a adoção de filhos por casais homossexuais, o projeto de lei que criminaliza o espancamento de crianças pelos pais (a chama lei da palmada) e as cotas raciais para universidades e concursos. O parlamentar chegou a defender em entrevistas a tortura de sequestradores e traficantes para a obtenção de informações pela política e a pena de morte para criminosos perigosos. Ele é sistematicamente contra qualquer projeto ou proposta que beneficie a comunidade LGBT.

O deputado já respondeu a, pelo menos, dois processos no conselho de ética da Câmara por causa de suas declarações preconceituosas contra negros e homossexuais e por agressão a uma colega deputada. Também foi acusado de dar um soco no senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) durante uma vistoria às instalações do Exército no Rio de Janeiro onde funcionou um centro de tortura durante a ditadura. Não chegou a ser punido com gravidade por nenhuma acusação. Ele se orgulha das suas posições conservadoras e até reacionárias. Já disse que sente saudades dos ex-generais Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. Polêmico, o parlamentar também defendeu o julgamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo por crime de lesa pátria por causa das privatizações da gestão do tucano.

Bolsonaro começou na política elegendo-se vereador no Rio de janeiro em 1988. É deputado federal desde 1990. De lá pra cá, suas posições reacionárias e de direita só lhe deram mais votos. Antes de entrar na política partidária, o ex-militar já tinha conseguido eleger sua então mulher vereadora no Rio. Com força política, conseguiu eleger os filhos Eduardo como deputado federal por São Paulo, Flávio deputado estadual fluminense, e Carlos, vereador carioca. Bolsonaro acredita que terá mais eleitores que o Pastor Everaldo, candidato do PSC à Presidência em 2014, que obteve 780 mil votos.

Para aquecer a campanha, Bolsonaro organizou uma viagem à Israel no início de maio. Vai com objetivo preciso: quer conhecer o sistema de segurança daquele país, principalmente a área de inteligência e espionagem, a legislação que sistematiza o uso de armas pelos civis, a tecnologia da dessalinização da água do mar e os projetos de agricultura irrigada. Bolsonaro não tem ilusão de que chegará ao segundo turno. Mas sabe que pode ajudar a formar uma bancada de deputados e senadores ainda mais conservadora que as atuais.

Congresso em Foco

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