Polícia Civil mendiga investimentos de um governo que lançou a Segurança Pública no calabouço do esquecimento
DA REPORTAGEM LOCAL
“Ao rei tudo, menos a honra!” A frase de abertura, entre aspas, de autoria de Calderón de La Barca, teatrólogo espanhol, é uma paráfrase de outra maior, um pensamento atribuído a Maquiavel. Ela, por si só, resume a indignação dos servidores da Polícia Civil do Estado de Rondônia, e mostra o caos, o abismo, o declínio, o calabouço em que o governador Confúcio Moura – que não tem a segurança da população como prioridade – enterrou o sistema de Segurança Pública do Estado, que mendiga o mínimo investimento de um governo que virou a costa para o setor.
O desabafo é do presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia de Rondônia (Sinsepol), Rodrigo Marinho, ao ser informado de mais uma humilhação que o governo fez os servidores passar.
O caso aconteceu em Rolim de Moura. Um morador esteve na delegacia da cidade para registrar uma ocorrência. Ele ficou tão comovido com a precária situação do local, sem higiene, sem pessoal de apoio para limpeza, móveis velhos e danificados, sem ar-condicionado, e a estrutura física corroída pela ação do tempo, que saiu de lá com o pensamento fixo: tinha que fazer algo para ajudar aqueles policiais, que mesmo num cenário tão crítico, o atenderam com boa vontade, respeito e orgulho de ser policial.
Na segunda-feira (10), os delegados, agentes e escrivães foram surpreendidos com a entrega feita por uma empresa de grande quantidade de produtos de limpeza e até utensílios domésticos. O entregador informou que o cidadão apenas realizou a compra na empresa onde trabalha e mandou entregar todo o material na delegacia.
Um gesto nobre de um cidadão, mas, ao mesmo tempo, a comprovação da falência total da Segurança Pública em Rondônia, relata o presidente do Sinsepol, Rodrigo Marinho. Ao negligenciar – de forma tão explícita, sorrateira, desleal – o governo não quer apenas desestimular os servidores da Polícia Civil. Ele quer ofender a honra de uma categoria que precisa se cotizar ou depender de ações como esta de Rolim de Moura para ter ao menos um ambiente limpo para trabalhar, já que em termos de estrutura, o setor ainda se arrasta como se estivesse na década de 70, época da colonização de Rondônia.
VERGONHA
A maioria dos policiais tem vergonha da situação que o Estado criou de total falta de compromisso com a categoria, com a população e com o setor de Segurança Pública.
“E nítida a situação precária do local onde os policiais tentam prestar um bom trabalho. A própria população percebe a situação crítica e diante da inércia governamental de quem deveria resolver o problema, não obstante pagar impostos acaba por tentar ao menos suavizar a realidade dura e cruel”, disse triste um dos policiais.
DOSSIÊ DA SEGURANÇA
Com muita coragem, enfrentando todos obstáculos, a diretoria do Sinsepol – pela primeira vez na história de Rondônia – vem mostrando a verdadeira face da Segurança Pública em Rondônia. Um criterioso relatório técnico com provas, físicas, depoimentos, fotografias, vem sendo elaborado pelos diretores José Ribeiro, Adão James, vice-presidente, Lindalva Miranda, e o presidente, Rodrigo Marinho.
Toda a documentação será entregue ao Ministério Público de Rondônia. Caso não surta efeito esperado pela categoria, a comissão trabalha com a expectativa de entregar o dossiê, em Brasília, ao Ministério Público Federal (MPF), à Comissão de Direitos Humanos da OAB nacional, e ao Congresso Nacional, para que a população brasileira conheça o regime análogo ao de semiescravidão, que estão sendo expostos os servidores da Polícia Civil no Estado.
“A diretoria do Sinsepol vem tornando público o caos em que se encontram as delegacias de polícia do Estado. E em Rolim de Moura não é diferente, péssimas condições de trabalho somado à falta de contingente, resultam na precariedade, a ponto de um cidadão, sensibilizado, doar materiais de limpeza para tentar minorar o problema. Este, lamentavelmente, é o retrato da Segurança Pública do Estado de Rondônia”, finalizou Rodrigo Marinho, presidente do Sinsepol.