Josias de Souza 1
Lalo de Almeida/Folha
Tratado pelo PT no primeiro turno sem nenhuma presença de espírito, Ciro Gomes decidiu retribuir ao aliado no segundo turno com sua ausência de corpo. Num instante em que o presidenciável petista Fernando Haddad esperava incorporar Ciro ao seu staff de campanha, o candidato derrotado do PDT, com a amizade já meio cansada, deu as costas ao afilhado de Lula e tirou uns dias de folga para descansar na Europa.
Antes de fazer as malas, Ciro articulou o apoio do PDT a Haddad. Não um apoio qualquer. Não, não. Absolutamente. Foi um “apoio crítico”. A plateia ficou sem saber de que tamanho é o apoio e até onde vai a crítica. Ficou-se com a impressão de que, se o adversário não fosse Jair Bolsonaro, Haddad e o petismo não receberiam de Ciro nem bom dia.
No início da campanha, Ciro acalentou a expectativa de ter o apoio do PT. Cogitou dividir a chapa com Haddad, que seria o seu vice. O grão-petista baiano Jaques Wagner defendeu a dobradinha. Mas a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ecoando Lula, desautorizou a articulação: “Nem com reza brava”. E Ciro: “Dá pena”.
Escanteado pelo PT, Ciro tocou o seu barco. Esteve na bica de atrair o PSB para sua coligação, aumentando seu tempo no horário eleitoral. Mas Lula, esticando a perna desde a cadeia, passou-lhe uma rasteira. Barganha daqui, regateia dali Lula empurrou o PSB para uma posição de neutralidade no primeiro turno.
Tanta divisão transformou a autoproclamada esquerda brasileira em cabo eleitoral de Jair Bolsonaro. Agora, ao perceber que o mano a mano Haddad X Bolsonaro será duro de roer, o PT se oferece para fazer o favor de liderar uma “frente democrática.” Ciro, por ora, enxergou no Aeroporto a saída menos desconfortável. Para reencontrar o amigo, Haddad talvez tenha que procurar um pouco.