Eduardo Knapp
O formidável no Brasil é que, no fim, tudo se incorpora ao espetáculo. Dilma Rousseff diz que deseja voltar ao Planalto para conspirar contra o próprio mandato. Ela avisa que, derrotado o impeachment, vai propor ao Congresso um plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais. E não se viu uma alteração no roteiro do processo que corre no Senado ou no semblante dos senadores pró-Dilma na comissão do impeachment. O show continuou.
Súbito, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, que torcia o nariz para a proposta, esclarece que mudou de opinião depois de trocar um dedo de prosa com Lula. Não acredita na viabilidade do plebiscito eleitoral. Mas tentará convencer a CUT a abraçar a causa. “A presidenta não pode ficar engessada‘‘, diz ele. “A CUT não vai defender o plebiscito no site. Mas, se essa é única esperança a que podemos nos apegar, vamos nela.‘‘
Supremo paradoxo: há no Brasil uma legião de quase 12 milhões de desempregados. E a maior central sindical do país desperdiça o seu tempo num debate sobre a antecipação da sucessão presidencial, uma ideia de materialização tão improvável quanto o retorno do governo empregocida de Dilma. E não se ouve nenhuma vaia. O show continua.