:
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, declarou ontem, quinta-feira, 26, que pode decidir na segunda-feira sobre todos os sete pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda pendentes de decisão. O jogo com o tempo é claro: na terça-feira o Conselho de Ética decidirá pelo prosseguimento ou não do processo de sua cassação e, para escapar, Cunha depende do voto dos três deputados do PT que integram o Conselho.
“Quem sabe segunda-feira. Não estou ainda inadimplente. Vocês podem cobrar a partir de segunda. É possível… pois todos nesta altura já têm parecer da área técnica”, disse Cunha ontem.
Entre os sete pedidos está o que foi apresentado pelo ex-petista Hélio Bicudo e foi também subscrito pelo jurista tucano Reale Júnior, sob o patrocínio dos partidos de oposição.
Segundo parlamentares do PT, a troca de mensagens tem sido discreta e sutil entre Cunha e o partido, mas está claro o condicionamento da rejeição dos pedidos ao apoio dos petistas no Conselho de Ética. Ali, Cunha teria hoje nove votos garantidos, precisando do apoio de pelo menos dois dos três petistas para rejeitar o parecer do parecer Fausto Pinato a favor da abertura do processo. Um vice-líder da bancada, que dialoga com Cunha, disse ter ouvido dele: “se existem razões para eu ser cassado, existem razões para ela também ser”.
Os petistas do Conselho são os deputados Léo de Brito (PT-AC), Valmir Prascidelli (PT-SP) e Zé Geraldo (PT-PA). Os três já manifestaram a intenção de votar pela continuidade do processo. O Palácio do Planalto negou com veemência estar pressionando os parlamentares a votar a favor de Cunha. A cúpula do partido diz que a decisão no conselho é de foro íntimo, não cabendo uma orientação partidária. Entretanto, à boca pequena comenta-se que eles vêm sendo fortemente pressionados a votar a favor de Cunha.
A ala do partido contrária a este gesto de pragmatismo para preservar Dilma avalia que depois da prisão do senador Delcídio Amaral ficou ainda mais difícil para o partido adotar esta posição que lhe desgastaria imensamente junto à opinião pública. Os pragmáticos, entretanto, alegam que já tendo o PT sangrado tanto, preservar o mandato de Dilma e o governo tornou-se agora mais relevante para a sobrevivência política. Removido do governo pelo impeachment, o partido seria triturado pelos adversários e já nas eleições municipais do ano que vem sofreria uma síncope eleitoral.
O jogo está posto por Cunha e daqui até segunda-feira o PT se debaterá com mais este dilema.