Eduardo Cunha está em franca movimentação, apostando todas as fichas na rejeição da abertura do processo de sua cassação pelo Conselho de Ética, na votação que pode ocorrer nesta quarta-feira ou na quinta, segundo o presidente do colegiado, José Carlos Araújo. Nas avaliações de Cunha e seu “núcleo duro”, se o processo for aberto e prosseguir, poderá chegar até o plenário, onde será muito difícil evitar a cassação. Por isso, a estratégia é matar o processo agora, no nascedouro.
Uma medida providencial de Cunha foi colocar o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, como titular do conselho, em substituição a outro aliado, para que o aguerrido líder da SD atue na guerra regimental e na cooptação de votos. Paulinho já avisou que pedirá vistas do parecer do relator quando ele for colocado em votação. Isso certamente inviabilizará os planos de Araújo de realizar a votação ainda esta semana.
O pedido de vistas tem um objetivo: ganhar tempo para a composição da maioria de 11 votos para rejeitar o parecer do relator Fausto Pinato pelo acolhimento da denúncia do PSOL e o prosseguimento do processo.
Em outra manobra Cunha alegará que teve o direito de defesa cerceado porque Pinato divulgou seu parecer ontem, antes da apresentação da defesa prometida e adiada por Cunha, embora não haja previsão regimental de defesa nesta fase do processo. Araújo declarou que a queixa é infundada mas ela pode render pano para mangas, inclusive pretexto para recurso ao STF. Como Pinato é advogado experiente, embora seja parlamentar de primeiro mandato, adversários de Cunha suspeitam que ele não antecipou a divulgação do parecer por ingenuidade ou descuido mas num jogo combinado para dar munição ao presidente da Câmara. Seja como for, isso não se provará.
Enquanto transcorre toda esta encenação, Cunha, Paulinho e aliados trabalham a todo vapor para garantir os 11 votos, a maioria do colegiado, para rejeitar o parecer do relator e encerrar logo o processo. Ou melhor, ele quer garantir mais do que 11 votos, quer uma folga que lhe dê garantia de vitória e neutralize eventuais defecções ou traições de última hora. E neste jogo de cooptação, não se sabe o que pode estar sendo oferecido aos eleitores. Mas Cunha ainda é presidente, ainda é tem muito poder e muito para oferecer. Quem conhece seu poder de fogo avisa: não se deve descartar a hipótese de ele sair vitorioso nesta primeira queda de braço. Mais tarde, bem mais tarde, virá o julgamento pelo STF. Agora, porém, ele quer continuar deputado e concluir o mandato como presidente da Câmara.