Josias de Souza
Lula Marques/Folha
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, autorizou Sergio Moro a periciar mensagens de texto extraídas de celular apreendido com Eduardo Cunha. Num dos diálogos, Cunha conversa com o correligionário Henrique Eduardo Alves. A certa altura, ele escreve: “Isso vai dar merda com o Michel.” A perícia será realizada pela Polícia Federal. Deve ficar pronta em 30 dias. A providência foi requerida pela defesa do próprio Cunha.
O processo começou a tramitar no Supremo. Mas desceu para a mesa de Moro depois que o mandato de Cunha foi passado na lâmina pela Câmara. Envolve propinas extraídas de negócios com sondas para exploração do óleo do pré-sal. Coisa de US$ 15 milhões. O celular já havia sido periciado em Brasília. Mas a memória do aparelho não chegou a Curitiba, apenas os relatórios da PF. E Moro, atendendo ao pedido dos advogados de Cunha, pediu autorização a Fachin para varejar o celular novamente.
A conversa que menciona Temer ocorreu em 22 de agosto de 2012. Nela, o ex-presidente da Câmara e ex-ministro Henrique Eduado Alves informa a Eduardo Cunha sobre encontro que acabara de manter com “Joes”. Tratava-se, segundo a PF, de Joesley Batista, da JBS. Alves diz que o personagem faria o repasse de três “convites” a campanhas do PMDB. Na tradução da PF, ‘‘convite‘‘ é enfemismo para dinheiro de má origem. No português das ruas: propina.
‘‘Joes aqui. Saindo. Confirme dos 3 convites, 1 RN 2 SP! Disse a ele!‘‘, anotou Henrique Alves na mensagem. E Cunha: ‘‘Ou seja ele vai tirar o de São Paulo para dar a vc? Isso vai dar merda com o Michel. E ele não estaria dando nada a mais‘‘. Corria na época a campanha municipal de 2012. Temer patrocinava em São Paulo a candidatura de Gabriel Chalita, à época filiado no PMDB.
A PF escreveu em seu relatório: “A utilização do termo ‘convites‘ pode ser uma tentativa de mascarar uma atividade de remessa financeira ilegal, já que, caso fosse um procedimento que obedecesse estritamente as normas legais, não haveria o porquê do uso deste termo”.
Os investigadores fizeram uma conecção com a campanha: “A hipótese seria que três repasses originados do acerto com o grupo JBS fossem relacionados a Michel Temer, lembrando que era um momento eleitoral, porém houve a intervenção de Henrique Alves para que um fosse direcionado ao Rio Grande do Norte, fato que poderia gerar alguma indisposição com Michel Temer, segundo Eduardo Cunha”.
Com o avanço do inquérito, a PF concluiu que a verba distribuída por Joesley aos correligionários de Temer foram extraídas de negócios com a Caixa Econômica Federal, onde trabalhava Geddel Vieira Lima, indicado à então presidente Dilma Rousseff por Michel Temer, seu vice. Resta agora saber por que Cunha tem tanto interesse em submeter a uma nova perícia o celular em que Temer aparece assim, de ponta-cabeça.