Josias de Souza
Pedro Ladeira/Folha
A troca de farpas entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha indica que a crise política entrou na fase da septicemia. Já é possível ver o pus no fim do túnel.
Perguntou-se a Dilma, no domingo, se as contas secretas de Cunha na Suíça constrangem o Brasil no exterior. Em viagem à Suécia, ela respondeu:
— Seria estranho se causassem. Ele não integra meu governo, eu lamento que seja um brasileiro, se é isso que você está perguntando.‘‘
Nesta segunda-feira, perguntou-se a Cunha o que achou da canelada de Dilma. O deputado respondeu com uma botinada:
— Eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior escândalo de corrupção do mundo.
O pior é que Dilma e Cunha têm razão.
É mesmo uma lástima que a presidente da República, uma brasileira de “reputação ilibada”, tenha que tourear um escândalo de corrupção que foi incapaz de farejar quando comandou o Conselho de Administração da Petrobras. Dilma não viu que personagens como Cunha comiam com as mãos dentro dos cofres da estatal.
É deplorável também que o presidente da Câmara, terceiro brasileiro na linha de sucessão da República, tenha sido pilhado com contas secretas que ele dizia não ter aberto na Suíça para guardar o dinheiro que ele jura não ter surrupiado da Petrobras.
Ao lamentar episódios dos quais participam como protagonistas, Dilma e Cunha tornam-se, diante dos olhos dos brasileiros, personagens lamentáveis de um enredo bem brasileiro.