Ex-ministro acompanhava cirurgia da mulher quando foi preso pela Polícia Federal, na 34ª fase da operação, intitulada Arquivo X
Eduardo Militão
Marcos Bezerra/Futura Press/Futura Press/Estadão Conteúdo
Citando a “urgência” do caso, o juiz da Operação Lava-Jato no Paraná, Sérgio Fernando Moro, mandou soltar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que havia sido preso quatro horas antes. O magistrado decidiu sem pedido da Polícia Federal ou do Ministério Público ao saber que o ex-ministro estava no hospital Albert Einsten acompanhando cirurgia de sua esposa. De acordo com o ex-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), a esposa de Mantega se tratava de um câncer.
“Sem embargo da gravidade dos fatos em apuração, noticiado que a prisão temporária foi efetivada na data de hoje quando o ex-Ministro acompanhava o cônjuge acometido de doença grave em cirurgia”, afirma Moro em despacho. A Polícia Federal e o Ministério Público informaram que desconheciam que Mantega estava no hospital. E disseram que cumpriram a ordem judicial porque não poderiam fugir a seu dever. A PF disse que cumpriu a prisão sem entrar no hospital.
Mas, segundo Moro, o fato de o ex-ministro estar acompanhando sua mulher numa cirurgia grave, significa que, ao menos neste momento, ele não oferece risco para a destruição de provas. Portanto, não seria necessária a sua prisão temporária, por cinco dias, como decretada antes. “Não obstante, considerando os fatos de que as buscas nos endereços dos investigados já se iniciaram e que o ex-Ministro acompanhava o cônjuge no hospital e, se liberado, deve assim continuar, reputo, no momento, esvaziados os riscos de interferência da colheita das provas nesse momento.”
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Segundo o juiz, sua atitude foi tomada isoladamente em virtude da “urgência” do caso, mas ele afirma crer que a Procuradoria e a polícia não se oporiam. “Procedo de ofício, pela urgência, mas ciente de essa provavelmente seria também a posição do MPF e da autoridade policial.”
Investigação
De acordo com a PF, em 2012 Mantega atuou diretamente junto ao comando de uma das empresas para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partido político da base aliada da então presidente Dilma Rousseff. “Estes valores teriam como destino pessoas já investigadas na operação e que atuavam no marketing e propaganda de campanhas políticas do mesmo partido”, afirma a Polícia Federal.
O empresário do grupo OSX, Eike Batista, disse que foi procurado em 2012 por Mantega para fazer um contrato falso a fim de repassar R$ 5 milhões “no interesse” do PT, segundo a Procuradoria da República no Paraná. O pagamento realizado foi de US$ 2,35 milhões, mas no exterior em nome de publicitários que já são alvo da Lava-Jato.