No inicio dos Anos 80, mais ou menos em 1983, eu me encontrava como comissário no 2º Distrito Policial, cujo prédio hoje sequer existe mais, pois inexplicavelmente juntamente com o 1º e 4º Distritos da capital, foram abandonados pela direção da SSP, estando todos em ruínas, quando fui procurado pelo delegado de plantão, cujo nome não mais me recordo, que informou que iria mandar para ali uma pessoa a ser recolhida, apenas no corredor que separava as celas e que deveria permanecer ali durante toda noite, o que de fato aconteceu.
Depois de recolher tal pessoa, com os cuidados recomendados pelo delegado plantonista, eis que recebi a visita do sempre barulhento e hoje saudoso advogado Abílio Nascimento, indagando a mim se aquela pessoa se encontrava recolhida ali no 2º Distrito, tendo eu de pronto negado o recolhimento do mesmo.
Nesse mesmo tempo, sem que ninguém percebesse, o preso subiu até a grade que dava vistas para a saída do prédio e ao perceber o advogado Abílio que se dirigia até o seu veiculo para procurar em outras delegacias, gritou a pleno pulmões: ‘Dr. Abílio eu estou preso aqui’, ato continuo o advogado retornou e bastante irritado me disse que iria adotar sérias providencias e que poderia ocorrer inclusive demissões, se retirando em seguida até o plantão de polícia.
Tempos depois, eis que o delegado, me determinou a soltura dessa pessoa, que aparentemente se encontrava recolhida ilegalmente, posto que nunca tomei conhecimento de nenhum procedimento legal contra tal preso.
Nem é necessário dizer que durante noite perdurou entre nós plantonistas do 2º Distrito Policial um clima terrível de angustia, pois naquela época por muito pouco nós perdemos o emprego, em rzaõ das coisas mais simples, imagine se recolher nos corredores das celas uma pessoa sem o devido processo legal.
Muito cedo da manhã, quando amargurado já ia sair para entregar as ocorrências da noite ao delegado de plantão, aparece de repente na delegacia o advogado Abílio Nascimento, que com o coração sempre muito generoso e sabedor que tinha deixado a todos angustiados, falou que tinha repensado e não iria formular qualquer queixa contra nós e que aquele fato, deveria servir como exemplo, para ocorrências futuras, que poderiam nos comprometer profissionalmente e que, portanto deveríamos agir sempre dentro do que dispunha a legislação.
Saudade do grande advogado e amigo dos policiais, Abílio Nascimento.