“De político e de louco, todos nós temos um pouco.” Adaptei essa frase do dito popular para expressar minha indignação diante da balbúrdia que tem nos acometido no âmbito político, cujos reflexos, por óbvio, impactam diretamente na nossa vida pessoal, profissional e social.
Conforme enunciado pelo Filósofo Platão, “a má administração de alguns homens faz com que a injustiça prolifere na cidade e o objetivo da política é corrigir essa injustiça. É tornar justo aquilo que é injusto”. Política, portanto, é direito e dever de todos nós e não apenas de um eleito a quem atribuímos prerrogativas para nos representar temporariamente.
Voltemos, pois, aos ensinamentos do filósofo para quem política é antes de tudo “a ciência que tem por objetivo produzir a felicidade do homem e divide-se em ética, ou felicidade individual e a política propriamente dita, dirigida ao coletivo”. Se depurarmos um pouco mais o enunciado, chegaremos muito próximo daquilo que compreendemos como religiosidade, algo intrínseco à natureza humana, conforme nos ensinou o criador da Psicologia Analítica, Carl G. Jung. Oras, se a política é pautada pela postura ética e sua prática produz a felicidade individual e coletiva, então tem o poder de nos remeter ao “éden na urbe”. Mas infelizmente não é o que acontece! Aliás, a nossa realidade política mais se assemelha ao Inferno de Dante e nem de longe lembra algo benevolente, que promova a realização social. Basta voltarmos no tempo para verificarmos que tem sido assim há pelo menos 80 anos, desde o Estado Novo, passando pelo Governo Militar e seus famigerados Atos Institucionais até abertura política no ano de 1985. A partir daí o que parecia ruim ficou pior com a sucessão de (des)governos que chegaram até os nossos dias. Ganhamos com a volta da democracia, mas nem sempre soubemos usá-la, especialmente no que tange a escolha dos nossos representantes.
Estamos acéfalos politicamente! Não que eu não considere o atual governo, que vejo como consequência direta do anterior. Até arriscaria afirmar que Bolsonaro foi eleito por uma “forcinha” do PT e não pelo seu até então capenga PSL. Diante de tantas falcatruas o povo pediu basta…só que não bastou! A situação continua crítica e governar está se tornando insustentável; ser brasileiro, idem. “Prá variar estamos em guerra” – anteviu a roqueira Rita Lee.
Entre o fogo cruzado de informações e contrainformações surgem figuras canhestras como Adélio, o portador de Transtorno Delirante Alucinatório, ou louco para os leigos, autor da facada no abdome do então candidato à Presidente. Portadores desse transtorno permeiam nossa política há muitos anos, desde os tempos de Celso Daniel e as 7 testemunhas do crime, Toninho do PT e mais recentemente Marielle Franco.
Mas eis que em meio à iminente tragédia que paira sobre nós, as redes sociais põem em cena uma figura simplória balbuciando um versejo sem tempero, mas que teve milhões de visualizações. Aí nos damos conta de que para um povo esperançoso uma simples melopeia entoada num sussurro esganiçado, enaltecendo a uma “caneta azul” é capaz de devolver o senso de humor e anestesiar o temor até que essa onda taciturna abrande. Para mim não está funcionando!
*Jair Queiroz – Psicólogo, Pó s Graduado em Segurança Pública.