Ichiro Guerra: <p>Brasília – DF, 07/01/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante café da manhã com jornalistas-setoristas do Palácio do Planalto. Foto: Ichiro Guerra/PR</p>
Ao dizer, na primeira entrevista do ano, que o Brasil terá que encarar uma reforma da Previdência, a presidente Dilma Rousseff mais uma vez desafia o senso comum; quando muitos esperavam que, com a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa, a presidente desse uma “guinada à esquerda”, ela acena com uma reforma defendida pelos setores mais à direita e corre o risco de se distanciar da base social que, no fim de 2015, foi às ruas para defender o seu mandato; uma pesquisa Vox/CUT, divulgada há poucos dias, revelou que 90% dos brasileiros são contra mudanças na Previdência; Dilma, no entanto, se mostra convicta: “não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja de 55 anos”; Vagner Freitas, o presidente da CUT, tem dito que o apoio a Dilma não é incondicional
247 – Na primeira entrevista coletiva do ano, a presidente Dilma Rousseff demonstrou que gosta de viver perigosamente. O fato do dia foi sua declaração enfática em defesa de uma reforma do sistema de aposentadorias – uma mudança que afetaria sua própria base social.
“Vamos encarar a reforma da Previdência”, disse ela. “Não é possível que a idade média de aposentadorias seja de 55 anos no Brasil”, afirmou.
O problema é que, no fim do ano passado, a Central Única dos Trabalhadores, que foi às ruas para defender a presidente Dilma da ameaça de golpe, divulgou uma pesquisa contratada junto ao instituto Vox Populi, revelando que 90% dos brasileiros são contra uma reforma da Previdência (leia aqui). Além disso, o presidente da central sindical, Vagner Freitas, pontuou que o apoio a Dilma não é incondicional.
Na prática, em nenhum país do mundo, há apoio para mudanças em “direitos adquiridos”. No entanto, em geral, os governos encaminham reformas de impacto na sociedade quando desfrutam de alta popularidade ou ampla maioria no parlamento – Dilma ainda não superou a ameaça de um golpe parlamentar e seus índices de aprovação, embora tenham melhorado em pesquisas recentes, ainda são baixos.
Apesar disso, ela decidiu sair da chamada zona de conforto. Segundo ela, a mudança na previdência deverá ser feita pela fixação de uma idade mínima ou de um instrumento que misture idade com tempo de contribuição, como ocorreu com a fórmula 85/95 móvel —que é a soma da idade com tempo de contribuição para mulheres e homens.
“Pode ser este caminho [o da idade mínima], tem outro que é a fórmula 85/95 móvel aprovada no Congresso”, disse ela, que prometeu negociar o tema com trabalhadores e com o Congresso. Aguarda-se, para as próximas horas, a reação dos sindicatos e dos movimentos sociais.