
Marlene Bergamo – Folha

Josias de Souza
Renan Calheiros reuniu-se reservadamente com Dilma Rousseff na quinta-feira (6) da semana passada. O encontro ocorreu no Palácio do Planalto. Não estava previsto na agenda. Depois dessa conversa, o tratamento dispensado pelo presidente do Senado ao governo sofreu uma guinada.
Dois dias antes, Renan conversava sobre o impeachment de Dilma num jantar com o presidente do PSDB, Aécio Neves, na casa do senador tucano Tasso Jereissati. Seis dias depois, Renan reúne-se nesta quarta-feira (12) com Lula e o vice-presidente Michel Temer para consolidar sua nova condição de escudo de Dilma.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que se opõe abertamente a Dilma e tinha Renan como um parceiro, estranhou a virada radical. Nesta terça-feira (11), em almoço oferecido a um grupo de líderes partidários na sua residência oficial, Cunha atribuiu a metamorfose de Renan a uma troca de interesses do senador com Dilma.
Cunha e Renan aproximaram-se depois que o procurador-geral da República Rodrigo Janot enfiou-os na lista de investigados da Operação Lava Jato. Ambos passaram a atribuir a supostas gestões do governo junto a Janot a inclusão de seus nomes no rol de suspeitos de receber propinas.
Cerca de sete horas antes de receber Renan no Planalto, Dilma concedera audiência ao presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti. Ele fora entregar à presidente a lista tríplice com os nome dos mais votados pela corporação para o cargo de procurador-geral da República. Candidato à reeleição, Janot encabeçou a lista.
Cerca de 48 horas depois da conversa com Renan, Dilma recebeu no Palácio da Alvorada o próprio Janot, cujo mandato expira em setembro. O algoz de Renan e Cunha estava acompanhado do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Foi informado por Dilma de que seria reconduzido ao cargo para um novo período de dois anos.
A indicação foi enviada ao Senado, que precisa ratificá-la em votação secreta. Renan vinha insinuando nos seus diálogos subterrâneos que não facilitaria a vida de Janot. Sinalizava que, no limite, a indicação poderia ser rejeitada. Essa aversão também sumiu. Hoje, Renan acena com uma aprovação relâmpago da recondução de Janot.
Há grande expectativa em Brasília em relação às primeiras denúncias que Janot enviará ao STF contra políticos encrencados na Lava Jato. Em privado, Cunha revela-se incomodado com notícias segundo as quais seu nome estaria na lista de denunciados e o de Renan ficaria de fora.
O presidente da Câmara estranhou também um comentário de Renan sobre a decisão da Câmara de priorizar a votação das prestações de contas de ex-presidentes —uma pré-condição para a análise da escrituração do governo Dilma de 2015, sob risco de rejeição no TCU.
“As pessoas perguntam sobre impedimento, sobre apreciação de contas dos governos anteriores”, disse Renan na segunda-feira, depois de sua reconversão ao governismo. “Isso não é prioridade, à medida que o Congresso tornar isso prioritário, nós estaremos tocando fogo no Brasil.” A eventual reprovação das contas do governo pelo Congresso motivaria um pedido de impeachment de Dilma.
Há duas semanas, Renan recebera em sua residência oficial o ministro Augusto Nardes, relator das contas do governo no TCU. Ele fora justamente pedir prioridade para a votação das contas de governos anteriores, represadas no Congresso desde 2002.
Na saída do encontro, a caminho da residência vizinha, ocupada por Cunha, Nardes disse que o presidente do Senado concordara com seu pedido: “Fiz esse apelo. E a reação foi muito positiva. Será dado prioridade.” De repente, o que parecia positivo para Renan passou a representar coisa de incendiário.