Servidores do Ministério das Relações Exteriores marcharam do Palácio do Itamarary até o do Planalto nesta sexta-feira (9) para cobrar equiparação salarial com outras carreiras do Executivo, como policiais federais, analistas tributários e agentes de inteligência. Em greve há 18 dias, eles rejeitam a proposta do Planejamento, que oferece reajuste de 27,9% escalonado em três anos. De acordo com os manifestantes, cerca de 200 pessoas participaram do ato.
O grupo fez um “buzinaço” e carregou faixas cobrando “dignidade” no trabalho. Os manifestantes deixaram o Itamaraty por volta das 11h e seguiram até o Planalto pela calçada da via N1. A Polícia Militar bloqueou uma das seis faixas – a da direita – para acompanhar o ato.
Atualmente, um diplomata ganha R$ 15 mil no início da carreira e R$ 21,39 mil no fim da carreira. A categoria quer que os salários passem para R$ 21,64 mil e R$ 28,89 mil respectivamente. Oficiais de chancelaria ganham R$ 7,20 mil no início de carreira e R$ 10,67 mil no fim da carreira. O movimento quer que os salários passem para R$ 14,38 mil e R$ 20,71 mil respectivamente.
Já assistentes de chancelaria recebem R$ 3,62 mil no começo da carreira e R$ 7,7 mil ao fim. Com os reajustes almejados, os salários iriam para R$ 7,28 mil e R$ 12,51 mil. No Brasil, há cerca de 1,5 mil servidores do Ministério de Relações Exteriores. Além deles, há 2 mil servidores lotados em representações fora do país.
De acordo com o sindicato que os representa, houve protesto também em 112 das 212 representações brasileiras pelo mundo. Secretária-geral da entidade, Wanda de Melo afirma que o aumento é negociado desde 2015. “Mesmo com ajuste fiscal, outras carreiras, como o Judiciário, tiveram reajuste”, disse.
“A gente quer que o Itamaraty valorize todos os trabalhadores. Não há só diplomatas aqui. É um protesto para todos os servidores”, afirmou a oficial de chancelaria Betsáida Capilé.
No início da greve, o Itamaraty informou estar “trabalhando para assegurar os serviços essenciais nas embaixadas e consulados no exterior, especialmente os serviços consulares e o atendimento aos brasileiros no exterior”. O ministério diz entender e apoiar o pleito por equiparação salarial – a negociação é comandada pelo Planejamento.
Em nota divulgada no site, o Sinditamaraty afirma que 30% do total de servidores seguem trabalhando “pelo princípio da continuidade dos serviços públicos”. O percentual é respeitado em cada posto diplomático, no Brasil e no exterior, diz a entidade.
Entre os serviços mais “urgentes” prestados pelo Itamaraty no Brasil e no exterior está a emissão de passaportes emergenciais e vistos de caráter humanitário. O ministério também cuida dos atestados de óbito e, em alguns casos, dá assistência no transporte de corpos. Quando um brasileiro é preso fora do país, o serviço consular faz visitas e pode levar itens de higiene e alimentação, a depender das condições e das regras de cada sistema prisional.
Mesmo com a manutenção de parte do efetivo, o sindicato estima prejuízo a serviços como “legalização de documentos, assistência consular e emissão de passaportes e vistos, por exemplo”. Ao longo da semana, o sindicato deve realizar atos em Brasília e em outras cidades onde há embaixadas e consulados.
Luta salarial
Segundo a categoria, a demanda por melhores salários foi apresentada no início de 2015 à ex-presidente Dilma Rousseff e ao então ministro Mauro Vieira. As negociações começaram em março do ano passado, mas a proposta de 27,9% oferecida pelo governo foi rejeitada pelos servidores em três assembleias.
Segundo o Sinditamaraty, o reajuste de 27,9% escalonado em três anos “não corrige a defasagem acumulada desde 2008”. A perda salarial apontada pelo sindicato é de 28,48% para assistentes de chancelaria, o posto mais baixo; 31,88% para oficiais de chancelaria, e 7,11% para os diplomatas.
A presidente do Sinditamaraty, Suellen Paz, afirma no site da entidade que as carreiras de chancelaria recebem os menores subsídios da Esplanada dos Ministérios. Nos últimos meses, os servidores reclamaram de atrasos no pagamento do auxílio-moradia, que tem impacto significativo para quem mora fora do Brasil.
A proposta salarial do sindicato prevê “piso” e “teto” para cada carreira, de acordo com a experiência no cargo. Para assistentes, os valores pedidos são R$ 7.283,89 e R$ 12.517,16, e para oficiais de chancelaria, R$ 14.380,72 e R$ 20.713,63. Para diplomatas, o subsídio inicial seria de R$ 21.644,81, e o final, de R$ 28.890,13.
G1