Ato Cruz
Josias de Souza
Difícil saber o que Lula esperava quando escolheu Dilma para sucedê-lo. Mas, a julgar pelo que anda dizendo dela, deve respirar profundamente e dizer de vez em quando: “Não era nada disso!”
Marta Suplicy dissera que Lula tinha desligado Dilma da tomada. “Ela não ouve, não adianta falar”, ele lavara as mãos. Pois o criador cético e a criatura circunspecta discutirão a relação nesta quinta-feira, em São Paulo.
A dupla está condenada à conciliação. Pela simples e boa razão de que não há Dilma sem Lula. E vice-versa. Se a canoa não virar, 2018 será uma possibilidade. Do contrário… Olêêê, olêêê, olááá!
A conversa seria mais proveitosa se Dilma subvertesse a ordem. Em vez de ouvir o inventário dos seus erros —da desorientação política ao isolamento— deveria submeter Lula a meio minuto de verdades.
A Lula o que é de Lula: quem transformou a Petrobras numa megajazida de propinas foi o padrinho. A afilhada tentou apagar o fogo em 2012, livrando-se de diretores partidários. Mas era tarde. O óleo queimado roçava-lhe o bico do sapato.
É sempre mais fácil apontar culpados do que procurá-los. Se procurasse, Lula encontraria no reflexo do espelho o responsável pelo outro pedaço da crise. Quem fabricou o mito da supergerente? Pois é, depois que o gênio é retirado da garrafa, não há como fazê-lo voltar.
Graças à conversão do matrimônio em patrimônio, o PT teve dinheiro para bancar as mumunhas de João Santana. Ilude daqui, engabela dali Dilma pediu aos eleitores mais um mandato. Obteve. Agora precisa dizer para quê.
Lula ajudará de verdade se parar de fazer pose de conselheiro. Dilma já deve ter notado que o mal de discutir com gente que se faz de idiota é o pessoal não distinguir quem é quem. Segundo o Datafolha, metade do país acha que está sendo presidido por uma mulher desonesta (47%), falsa (54%) e indecisa (50%).