Davi Alcolumbre é acusado de crimes eleitorais, contra a fé pública e uso de documento falso na prestação de contas da campanha de 2014
Entre 2015 e 2018, Alcolumbre gastou mais de R$ 1,7 milhão com a cota de gabinete, a maior parte para divulgação da atividade parlamentar. Foto: Jonas Pereira/Ag. Senado
O novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), eleito no sábado, 2, com maioria absoluta, também lançou mão de práticas consideradas da “velha política” em sua trajetória política, apesar de ter apenas 41 anos. Ele é investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são da rádio CBN.
Em um deles, o senador é acusado de irregularidades na campanha eleitoral de 2014, quando se elegeu senador. O outro inquérito corre em segredo de Justiça, e não é possível ter acesso a detalhes da acusação. As duas investigações ainda estão na fase de diligências que devem ser conduzidas pela Polícia Federal. Não há prazo para conclusão. O senador nega as irregularidades.
Segundo o Ministério Público, o senador utilizou notas fiscais frias para a prestação de contas da campanha de 2014. Os investigadores também apontam ausência de comprovantes bancários e contratação de serviços com data posterior à das eleições. Ainda de acordo com o MP, cheques vinculados às contas da campanha eleitoral, emitidos nominalmente a empresas que teriam prestado serviços ao então candidato, foram na verdade endereçados a Reynaldo Antônio Machado Gomes, contador da campanha de David Alcolumbre. Parte desse dinheiro teria sido sacado em espécie na boca do caixa.
Em 2013, Alcolumbre, então deputado federal, foi investigado por supostas ligações com o doleiro Fayed Trabouli, no escândalo sobre desvios de dinheiro de fundos de pensão. Os indícios sobre o suposto envolvimento de parlamentares com o grupo de Fayed foram obtidos de forma incidental durante as investigações da Operação Miquéias. O doleiro foi acusado de desvio de R$ 50 milhões de fundos de pensão de prefeituras e governos estaduais.
As investigações da Operação Miquéias, no entanto, foram barradas no Supremo Tribunal Federal (STF). Relator do caso, o ministro Marco Aurélio Mello decidiu anular interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no período.
Outros casos
Aliado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Alcolumbre ainda colocou como seu suplente no Senado um irmão: Josiel Alcolumbre. Também está lotada no gabinete dele com cargo comissionado a esposa de Onyx, Denise Veberling.
Em 2013, ainda deputado, usou verba de gabinete para abastecer seus carros no posto de gasolina Salomão Alcolumbre e cia LTDA, do seu tio, Alberto Alcolumbre. O tio, inclusive, ganhou uma homenagem, através de um projeto de lei de Davi, aprovado em 2009, acrescentando o nome dele ao título do Aeroporto de Macapá.
Na eleição de 2018, Alcolumbre disputou o governo do Amapá. Ele perdeu a eleição para Waldez Góes (PDT). A eleição lhe rendeu uma acusação do Ministério Público Eleitoral por suspeita de pressionar servidores da Secretaria Municipal de Saúde de Macapá, em horário de expediente, a participarem dos atos de campanha dele e de sua vice, Silvana Vedovelli.
JBS e CPI do BNDES
Outro dado que chama a atenção na prestação de contas de Alcolumbre na campanha de 2014 é doação recebida do grupo JBS. Foram R$ 138 mil no total.
O senador presidiu a CPI do BNDES, que apurou irregularidades na empresa. Na época, ele negou qualquer interferência e alegou que os recursos foram recebidos dentro da lei.
Senado
No Senado, a prestação de contas de Alcolumbre também revela gastos expressivos. De 2015 a 2018, ele gastou R$ 1.746.000,00 da cota de gabinete. A maior parte, R$ 761 mil, com a divulgação da atividade parlamentar. Outros R$ 459 mil foram desembolsados pelos cofres públicos para pagar hospedagens, alimentação, locação de veículos e combustíveis para o senador.
Já em votações importantes, Davi Alcolumbre se posicionou de maneira controversa em algumas matérias. Votou contra o afastamento do então senador e agora deputado, Aécio Neves (PSDB-MG), e a favor do reajuste dos ministros do Supremo.
Adversário na disputa à Presidência do Senado
Davi Alcolumbre foi eleito presidente do Senado neste fim de semana com 42 votos. Seu maior adversário era o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que desistiu da disputa no meio da votação, quando percebeu que não teria chances de vitória.
Renan coleciona inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) – são 14 no total -, chegou a ser réu na corte por peculato em ação do caso Mônica Veloso, mas foi absolvido dois anos depois, e foi nome altamente presente nas delações da Operação Lava Jato.
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Foto Jonas Pereira