O sentimento de impotência é um dos piores que podemos experimentar. Diante do enunciado de que não há o que fazer e que só podemos esperar, a sensação é angustiante.
Piora quando o que nos espreita pode nos trazer a morte, o que faz com que essa espera seja similar a de um condenado que aguarda no corredor da câmara de gás. Mais dias, menos dias será chamado e sua vida será ceifada.
Muitos já tombaram e muitos ainda cairão, sem piedade, sem lamúrias, sem despedida..!
No cenário que estamos enfrentando o carrasco não se apresentará usando capuz de verdugo.
Não! Nosso carrasco será um ser ínfimo, invisível, porém poderoso, que se aproxima sorrateiro, invade nossas células, nos destrói humilhantemente, sem direito a presença de um ente querido a segurar nossa mão no momento da passagem; sem direito a um velório digno… mera massa amorfa a ser descartada.
Fica o choro dos nossos queridos; fica o medo expresso nos olhares; fica a impotência humana…A impotência do ser que arrogantemente tripudiou da natureza, abusou do ecossistema, brincou de ser Deus.
Até o oxigênio que sempre nos foi dado de graça, agora falta; falta nos cilindros e falta nos alvéolos pulmonares dos infectados.
Hoje é o calibrar da dosagem, o abrir da válvula e torcer para que a metragem cúbica disponível no cilindro nos seja suficiente.
Do abrir a janela, olhar para o sol da manhã e respirar o ar puro, ficou a saudade.
E o desalento maior nessa circunstância caótica ocorre ao invocarmos a poesia – que sempre se apresenta suave, bela e traduz esperança – numa tentativa de aplacar o medo, mas eis que o clima tétrico nos reserva Augusto dos Anjos, declamando seu fúnebre soneto intitulado…
“O DEUS-VERME”
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme – é o seu nome obscuro de batismo.
Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.
Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão…
Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!
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Recolho-me ao quarto e ponho-me a rezar!
Que Deus nos Salve!!!
Jair Queiroz é policial aposentado e Psicólogo