Pedro Marinho
Em 2003 me encontrava como delegado Titular da Delegacia de Crimes contra o Patrimônio, tendo ali na equipe Edilson Lopes, Sivaldi, Faustino, Cabral, Rivaldo, Cantanhede, Raimundo 18, Serjão e muitos outros policiais, realizando naquela época um trabalho bem elogiado, pois desbaratamos a Quadrilha de jovens da sociedade de Porto Velho, que praticavam estupros e roubos e que era comandada pelo falecido individuo de vulgo Gato. Com informações de um informante de Catanhede a nossa equipe teve importância vital no esclarecimento do latrocínio de Carlos Donege superintendente da Aster/RO, crime que chocou toda sociedade rondoniense, a prisão da estelionatária granfina de Belém-PA, esposa de um militar da alta patente, a prisão do conhecido estelionatário Evon Cançado Arantes que comprava cheques de pequeno valor e colocava valores bem superiores, preservando apenas a assinatura do titular da conta e muitos outros furtos e roubos importantes.
Uma ação, porém teve muito destaque, ou seja, um certo dia na madrugada, assaltaram a tradicional Padaria Popular, que servia lanches e que tinha um movimento muito grande e consequentemente tinha sempre dinheiro em caixa.
Quatro indivíduos todos armados, adentraram no citado estabelecimento, renderam a todos e tomaram dinheiro e pertences e quando já se imaginava que os mesmos já iriam se retirar, eis que estacionou defronte a padaria, um veiculo cinza modelo Del Rey, servindo como táxi e os indivíduos resolveram também levar o pesado cofre da padaria e com muito sacrifício conseguiram colocar na mala do táxi e se evadiram do local.
Muito cedo da manhã fui ‘educadamente’ despertado pelo secretário Humberto Morais de Vasconcelos, irado dizendo até palavrões, pois entendia ele que inadmissível acontecer um fato daquele com um irmão de Maçonaria do Governador, que por sua vez já tinha telefonado para sua casa, exigindo dele secretário o imediato esclarecimento daquele roubo.
Ainda pensei em dizer ao secretário que nem eu nem os policiais éramos guardas noturnos e, portanto, não poderíamos estar ali na hora do assalto, mas ai poderia piorar muito a coisa e até gerar punições, o que era bem comum naquela época e engoli calado.
Sai rapidamente de casa e ao chegar na Delegacia, solicitei ao comissário que mesmo antes do horário normal de expediente, enviasse duas viaturas para buscar nas respectivas casas os componentes da nossa equipe, o que de fato foi feito.
Diante da informação de que o cofre teria sido levado num carro Del Rey de cor cinza e de praça, fiz uma rápida reunião e disse aos policiais que não deveriam ter tantos veículos com essa discrição e, portanto caíssem em campo e trouxessem até delegacia todos os carros que se encaixassem nessa descrição.
Cerca de uma hora depois uma equipe trouxe um taxi Del Rey Cinza e o seu condutor, um sujeito, branco, baixo e forte. Ao observar o mesmo percebi suas roupas sujas e amarrotadas e os olhos bem vermelhos como se tivesse passado a noite trabalhando e indagando sobre isso, me disse que estava dormindo em casa, quando então peguei a chave do carro e sozinho fui olhar a mala do carro e ao abrir logo vi claramente as marcas dos quatros pés do cofre e ai não tive mais nenhum duvida, mas para não fazer uma avaliação errada, chamei separadamente dois ou três policiais e passei a indagar o que os mesmos viam ali na mala e todos forma unânimes que o cofre tinha sido transportado naquele veiculo.
De volta a sala, me virei para o suspeito e disse ao mesmo: ‘Aqui não tem trouxa não e nós temos urgência em saber onde se encontra seus parceiros e o cofre. O dito cujo percebendo que a casa tinha caído, nem pestanejou e disse que todos estavam naquele momento abrindo o cofre nos fundos de uma casa abandonada na Rua Pinheiro Machado e que estavam todos armados.
Acionei toda equipe do Patrimônio, bem como o pessoal da Sevic do 4º DP que funcionava também no mesmo prédio e rumamos rapidamente para lá, desembarcamos das viaturas um quarteirão antes e fomos andando, na verdade quase correndo e adentramos na casa até o quintal, quando inesperadamente o policial Cabral com a metralhadora na mão e sem receber nenhum comando, com os pés quebrou a porta de entrada e ali se encontravam os quatro indivíduos de cócoras, abrindo o cofre utilizando um maçarico, com as respectivas armas longe dos mesmos em cima de uma velha prateleira, não permitindo assim nenhuma reação, quando então todos foram devidamente imobilizados e algemados.
De volta a Delegacia do Patrimônio, muita comemoração dos policiais e ai sim, muitos afagos e parabéns da cúpula da SSP, com elogio recebido até mesmo do governador do Estado, pelo esclarecimento do roubo a apreensão do cofre com todo dinheiro em pouco mais de cinco horas de trabalho.
Depois dessa resolveram que eu deveria trabalhar como delegado-titular e solitário em Guajará-Mirim, em tempos terríveis de muito comércio de drogas e ao lado um pesado garimpo. Mas, essa é outra história para depois.