Pedro Marinho fala da demissão de um delegado da Polícia Civil de Rondônia

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No final dos anos 80 me encontrava como diretor  da Polícia Metropolitana e professor da Academia, quando conheci um casal, sendo ele Jair – esquecendo agora o seu nome de família  – que era aluno-delegado e a sua esposa, estudante-agente, cujo nome me foge inteiramente a memória, ambos oriundos do Estado de São Paulo.

 Era um casal jovem, bem aparentado e ambos meus alunos, ele no curso de delegado de Polícia e ela no curso de agente policial e se destacavam por terem um conversa bem agradável.

 Terminado o curso na Academia de Polícia, ele em razão das boas notas obtidas na conclusão do curso, teve a opção de ficar na capital do Estado e ela por ser esposa, também foi lotada numa das delegacias da capital, salvo engano na Delegacia da Mulher. Ele Jair foi designado para trabalhar no plantão de polícia e, portanto sob a minha chefia direta.

 No trabalho o mesmo sempre se mostrou desembaraçado e muito preparado nas lavraturas dos flagrantes e outros procedimentos sob suas responsabilidades e todas as vezes que se encontrava de plantão, mesmo existindo um coordenador que era o delegado Mauro Gomes, o mesmo fazia questão de ir até a minha sala fazer um breve relato de tudo que ocorrera, seja na jornada diurna ou noturna.

 Certa feita, o mesmo me procurou dizendo que havia conversado com o delegado Mauro, sobre a possibilidade de permutar um dos seus plantões, pois necessitava ir até a cidade de Guajará-Mirim, onde residia uma sua tia, que ali se encontrava enferma e que ele voltaria no final de três ou quatro dias. Em razão desse pedido, Mauro o aconselhou que ele me procurasse e solicitasse tal licença, o que ele fez, sendo de pronto atendido por mim, penalizado com a situação da tia do colega delegado.

 Dois ou três dias depois, fui informado que o delegado Jair, havia sido abordado por João Lins Dutra, o João Pomba e equipe no Porto de Guajará Mirim, tentando passar para a Bolívia com um carro marca Brasília e interpelado se disse delegado, mas se negou a se identificar, dizendo que só o faria ao delegado daquela cidade, inclusive tratando mal os policiais, tendo João diante da sua recusa, resolvido levá-lo a delegacia de polícia, tendo ele ali, mostrado seus documento pessoais e do veiculo e como até aquele momento não havia nada de roubo, o delegado o liberou mas avisou que ele na passasse o caro para a Bolívia até o esclarecimento dos fatos, tendo o mesmo aproveitado e feito a travessia do carro.

 Poucos dias depois, chegou a informação de que tal veiculo que se encontrava em poder do delegado, havia sido roubado na cidade de Ouro Preto e ali na Bolívia havia sido trocado por drogas e que ele o delegado Jair que levou tal veiculo, não tinha parente nenhum em Guajará-Mirim e que seria testa de ferro de uma quadrilha de ladrões de automóveis, ou seja, com o documento funcional de delegado de polícia ele conseguiria mais facilmente abrir portas.  

 Diante de tal informação, fiquei possesso, pois tal delegado havia quebrado a minha confiança e me deixado em situação bem delicada, pois tinha sido eu o responsável, pela sua liberação e viagem para Guajará.

 Considerando que já existia um inquérito policial instaurado para apurar os fatos, preparei um documento para a Corregedoria para o devido processo administrativo e mandei buscar em casa o delegado, tendo recebido o mesmo com cara de poucos amigos e depois de lhe dizer umas boas, solicitei naquele momento sua carteira funcional e a sua arma, que ele entregou sem maiores contestações.

 Chamado para ser ouvido tanto no inquérito penal como no administrativo, na presença do mesmo e do seu advogado fui incisivo contra o mesmo e relatei as suas mentiras e desfaçatez, sendo que na Corregedoria, numa sala bem apertada e, portanto, todos bem próximos, o advogado tentou dar uma de tranquilo e soberbo e se virando para mim, foi dizendo: ‘Doutor, se este meu cliente for demitido, eu prometo ao senhor jogar fora meu anel e rasgar meu diploma’, ao que de pronto respondi: ‘Se a demissão dele depender de mim, eu aconselharia ao senhor ao sair daqui, já jogar seu anel e diploma no Rio Madeira.

 O fato é que tempos depois esse delegado foi demitido a bem do serviço público e a esposa do mesmo para acompanhá-lo de volta a São Paulo, solicitou a sua demissão e se foi junto com ele.

 Tempos depois, junto com os colegas delegados Deraldo Scatalon e Silvio Machado, fomos fazer um curso de 40 dias na Academia de Polícia de São Paulo de  ‘Gerenciamento Policial’ para delegados de classe especial, vindos de toda parte do Brasil. Ali em visita ao Palácio da Polícia, tomamos conhecimento que ele o ex-delegado Jair, havia sido preso naquele  Estado de São Paulo, acusado de roubo de veículos e que se encontrava cumprindo pena no presídio policial, localizado naquele prédio da polícia.

 Recordo que do nada, o corregedor geral da Polícia de São Paulo um delegado muito famoso e que serviu como corregedor a vários governadores daquele Estado, se virou para nós e talvez para nos testar, disse: ‘Tem aqui um colega de vocês preso por roubo de carros, gostariam de visitá-lo?” Tendo Silvio rapidamente se levantado do sofá, dizendo que sim e que gostaria de reencontrá-lo, quando educadamente fiz Silvio voltar a se sentar no sofá e virando para o corregedor lhe disse: ‘Dr. desculpe, mas devo lhe dizer que não temos colega ladrão, tanto que o expulsamos da Policia de Rondônia. Tendo o corregedor se desculpado e dito que havia se expressado mal. Logo depois encerramos tal visita.

Triste fim para um jovem delegado e para sua esposa agente policial, que aprovados num  difícil concurso público, poderiam ter tido um futuro profissional digno na Polícia Civil de Rondônia. 

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