Rafael Hupsel/Folha
Jair Bolsonaro utiliza a língua com frequência cada vez maior. Agora só falta aprender a usar o idioma. Nesta terça-feira, o presidenciável do PSL torturou o português para socorrer o general Hamilton Mourão, seu vice.
Na véspera, Mourão dissera: “Essa herança do privilégio é uma herança ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem é oriunda do africano…”
E Bolsonaro: “O que é a indolência? É a capacidade de perdoar? Veja aí no dicionário. É a capacidade de perdoar? O índio perdoa. Não é isso?” Os dicionários anotam muitas acepções para o vocábulo “indolência”. Nenhuma delas delas se parece com perdão: ociosidade, preguiça, desleixo, negligência, apatia…
Quanto à malandragem, Bolsonaro encontrou um sinômino dicionarizado: esperteza. É a mesma coisa? É isso? Ôhhhh… Me chamam de malandro carioca o tempo todo.” O diabo é que, no contexto em que foi usada pelo vice-esperto, a palavra “malandragem” é sinônimo de vagabundagem.
O capitão disse ter conversado com seu vice sobre a polêmica. Aconselhou o general a adotar o principio da moderação. Bolsonaro apresentou-se como um modelo no qual Mourão pode se inspirar. Hummmmm…
Para azar de Mourão, de todas as extravagâncias praticadas por Bolsonaro a menos perceptível é o excesso de moderação. O general talvez tenha de procurar outra referência.
Por sorte, a herança ibérica inclui o português. O general e o capitão podem se desentender falando o mesmo idioma. Imagine se a dupla tivesse de se expressar em tupi-guarani!