Josias de Souza
Líder do oposicionista DEM, o deputado pernambucano Mendonça Filho assumiu na Câmara um papel que Dilma Rousseff gostaria que fosse desempenhado por seus aliados. Em reunião do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com os líderes partidários, Mendonça enrolou-se na bandeira da responsabilidade fiscal e pregou contra a aprovação da proposta que vincula os salários de advogados da União, procuradores estaduais e de delegados de polícia a 90,25% dos contracheques dos ministros do STF.
O Brasil está virando uma grande Grécia, disse Mendonça, numa referência à incapacidade do governo de restabelecer o equilíbrio fiscal. O deputado disse aos colegas, a porta fechadas, que o governo acabou. O fim ficara evidente na noite da véspera, quando, abandonado por seus aliados, o Planalto não conseguira aprovar nem mesmo um pedido de adiamento do projeto da corporação dos advogados públicos. Um governo que não consegue adiar a votação de um projeto já não existe, disse Mendonça.
Numa tentativa de reduzir o tamanho da encrenca, foi à mesa de reuniões da sala de Cunha uma sugestão de votar apenas o aumento para advogados da União e delegados federais, excluindo as corporações jurídicas cujos contracheques são bancados pelos governos estaduais. Mendonça posicionou-se contra. Avalia que, quanto maior for o descalabro fiscal, menores serão as chances de a proposta avançar.
O líder do DEM ironizou: “Ou o problema fica grande demais e se inviabiliza ou vamos ferrar o país em conta-gotas. Ontem, aprovou-se aumento para os defensores públicos. Agora, os advogados da União e os delegados. Aos pouquinhos, virão todas as corporações. Então, é melhor botarmos logo nessa proposta os guardas florestais, os porteiros… Todo mundo vinculado aos salários dos ministros do Supremo. Se é para arrebentar, que seja de uma vez. E o Brasil assume de uma vez sua condição de país falido. Uma Grécia sem a Alemanha para cobrar o ajuste fiscal.”