Marlene Bergamo
Sem João Santana, Dilma Rousseff não consegue redigir uma carta. Adiou pela terceira vez —ou seria a quarta?— a divulgação do texto idealizado para virar votos no Senado. É como se lhe caísse a ficha do fato consumado.
Alguém deve ter dito no exílio do Alvorada que todas as opiniões de Dilma sobre Dilma são suspeitas. A essa altura, o documento seria inútil ainda que contivesse um gesto de contrição. Um remorso tardio não seria exemplo aproveitável.
Em sua penúltima versão, a carta oculta de Dilma contém cinco páginas. O miolo da alcatra está na proposta de realização de um plebiscito sobre a antecipação das eleições presidenciais.
Desmarquetada e com a corda no pescoço, tudo o que Dilma tem a oferecer caso lhe restituam a poltrona é uma consulta para que o povo informe que prefere escolher outro presidente. Até Rui Falcão já tomou distância da tolice.
No mais, a carta de Dilma é, na definição de um senador que leu a peça, um documento raso. Se fosse uma poça, poderia ser atravessada por uma formiga —com água pelas canelas.
Na falta de João Santana, alguém deveria se habilitar para a função de orientador de Dilma. Há no PT um nome ideal: Lula. É o único que pode dizer para madame, sem levar um passa-fora, que o vaivém da carta está na bica de atravessar a fronteira do patético.