Josias de Souza 10/08/2016 03:11
Afastada da Presidência em 12 de maio por 55 votos a 22, Dilma Rousseff teve três meses para reverter o placar que fez dela uma deposição esperando para acontecer. Além de não seduzir nenhum voto, Dilma conseguiu encolher sua infantaria. Restaram-lhe 21 aliados. O senador João Alberto (PMDB-MA), cujas posições são guiadas pela vontade de José Sarney, trocou de lado.
A tropa de Michel Temer, recebeu quatro novos alistamentos, subindo para 59. Além do soldado de Sarney, engrossaram o pelotão três senadores que faltaram à votação de maio: os peemedebistas Eduardo Braga (AM) e Jader Barbalho (PA), além de Pedro Chaves (PSC-MS), suplente do senador cassado Delcídio Amaral. Renan Calheiros (PMDB-AL), embora estivesse presente, não quis votar.
Assim, o parecer redigido por Antonio Anastasia (PSDB-MG), que transformou Dilma em ré, prevaleceu por um placar de 59 votos a 21 —prenúncio do que está por vir no julgamento final. Considerando-se que são necessários apenas 54 votos para que madame seja enviada mais cedo para casa, o impeachment de Dilma ganhou, definitivamente, a aparêncioa de jogo jogado.
O derretimento de Dilma foi potencializado pela movimentação dos pajés do PMDB. Num primeiro momento, apenas Romero Jucá (RR) havia se enrolado na bandeira do impeachment. Eduardo Braga, ex-ministro de Dilma, e Jader Barbalho, que mantinha um filho na Esplanada petista, refugiaram-se na ausência. A pedido de Lula, Sarney retardara a migração de João Alberto.
Agora, os sábios da tribo de Temer juntaram-se ao redor da fogueira em que arde o mandato de Dilma. Mesmo Renan, que o petismo tratava como último heroi da resistência, passou a operar por Temer. Articula há dias o encurtamento dos prazos, para que a conversão do interino em presidente efetivo ocorra ainda no mês de agosto.
Com seus interesses políticos atendidos por Temer, os caciques do PMDB agem para cacifar sua Presidência. Une-os também o interesse em “estancar a sangria” da Lava Jato, como evidenciaram os autogrampos do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, afilhado político de Renan. Nesse ponto, aliás, o PMDB se parece muito com o partido de Dilma e Lula. Se pudesse, o PT também aplicaria um torniquete nas investigações de Curitiba.