Ela foi atleta em duas olimpíadas e nos últimos tempos torce para que seus companheiros investiguem para valer a corrupção que assola o esporte nacional.
Tayanne em ação no Pan de 2003. Imagem: REUTERS/Peter Jones
Corpo de espiã, com flexibilidade para passar no meio de feixes de raios infra-vermelhos, saltitando para entrar em um esconderijo e não disparar o alarme. Muito bonita também. E, acreditem, está na Policia Federal e, pelo menos uma vez por mês, sai em missões pelo Brasil.
Ela foi atleta em duas olimpíadas e nos últimos tempos torce para que seus companheiros investiguem para valer a corrupção que assola o esporte nacional.“Infelizmente se fizermos uma limpa no esporte brasileiro, vamos encontrar muita coisa.”
Essa personagem não é de histórias em quadrinhos. Não é uma agente secreta, mas existe e tem nome: Tayanne Mantovaneli, atleta da ginástica rítmica nos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim, que agora ocupa o cargo de escrivã da Polícia Federal, em Cuiabá.
Ela sabe muito bem que o esporte nacional não anda de mãos dadas com a transparência. “A corrupção se entranha em todos os lugares onde há dinheiro público e o esporte não é diferente”, admite a menina, formada em direito, que prestou concursos e mais concursos após abandonar a carreira de ginasta, em 2009.
Ela era uma das estrelas da equipe brasileira e tem uma inédita medalha de bronze pan-americana, conquistada na prova de maças, em Santo Domingo, no ano de 2003: foi a primeira atleta nacional a subir ao pódio em uma competição individual de GRD. E era mesmo um espetáculo ver os movimentos sinuosos que fazia com seu corpo elástico.
“Eu terminei minha carreira muito bem resolvida. Sinto saudades, mas é um saudosismo bom”. Tanto é verdade que comprou ingressos para assistir as competições das ginastas no Rio de Janeiro, onde vai rever sua técnica lá de Vila Velha, a amiga Mônica Queiroz. Mas vai ficar lá só três dias.
“Eu poderia trabalhar nos Jogos Olímpicos na parte de segurança, mas tenho provas e novos cursos a fazer, então resolvi permanecer em Cuiabá, mas com o coração doendo, porque a maioria dos meus companheiros da Polícia estará lá em missão”, conta Tayanne, hoje com 29 anos. “Inclusive o meu namorado, que também é policial, estará lá”.
O amado curte os filmes de ação, investigação e espionagem. E ela aprendeu a gostar também. “Não tenho um dia-a-dia de agente especial, seria mais uma burocrata investigativa, mas a parte de academia é puxada e o meu passado no esporte ajuda muito”. E é preciso estar mesmo em forma.
“Não é toda hora, mas ao menos uma vez por mês eu saio em ação. Teve uma vez em que tive até que pular muros para cumprir um mandado em outro Estado da Federação”. Na Lava-Jato especificamente não trabalhou, mas em ramificações da investigação matogrossense chegou a atuar. Só não pode citar nomes…
Espera, sinceramente, um dia poder investigar e mostrar tudo o que aconteceu nos subterrâneos das obras olímpicas. “Poderiam ter desenvolvido o potencial esportivo dos atletas, mas acredito que poucos tiveram esse privilégio… com certeza o dinheiro foi aplicado de maneira errada… tirando uma ou outra modalidade, os atletas foram esquecidos mais uma vez”.
Como vocês, nós também gostaríamos de ver uma foto da policial Tayanne em ação. Mas as regras da corporação ensinam que a publicidade não é recomendável. E não somos nós que vamos discutir com a Polícia Federal.
UOL