Ao menos quatro categorias anunciaram greve em busca de reajuste salarial. Governo divulgou aumento, mas promessa não saiu do papel
atualizado 10/05/2022 6:02
Hugo Barreto/Metrópoles
Várias áreas do funcionalismo público têm anunciado greves em busca de reajuste salarial. Os servidores não têm mudança na remuneração desde 2019.
Em março, as alas política e econômica concordaram em conceder reajuste linear para todos os servidores federais ainda em 2022. A ideia é que o aumento seja de 5% para todo o funcionalismo da União. Quase dois meses depois, no entanto, a promessa não saiu do papel. Mesmo que avance, a medida só começaria a valer em julho.
Atualmente, três categorias estão em greve. São servidores:
- do Banco Central;
- do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); e
- do Ministério do Trabalho e da Previdência.
Outras categorias, como a dos delegados, por exemplo, anunciaram greve e pediram a renúncia do ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. O comunicado foi feito na semana passada, mas o início da paralisação segue indefinido.
Preocupação com os caminhoneiros
Os caminheiros não acenaram possível greve nacional, mas o anúncio de novo reajuste de 8,86% no preço do diesel vendido às distribuidoras, a partir desta terça-feira (10/5), reacendeu a insatisfação da categoria.
Para conter os ânimos dos caminhoneiros, o Planalto estuda mudança na cobrança dos fretes. A ideia é que o preço seja calculado quando a mercadoria for entregue ao consumidor final.
Além disso, a intenção de criar um programa de subsídio para os combustíveis voltou ao radar. Em discussão desde o início do ano, o governo ainda estuda o melhor momento para anunciar a medida e garantir apoio eleitoral.
Bolsonaro considera que os caminhoneiros fazem parte de sua base de apoio e que, a exemplo de 2018, têm grande influência no resultado eleitoral. Desde o início do ano, o governo lançou duas linhas de créditos destinadas à categoria.
O comitê que trabalha pela reeleição do presidente ao Planalto avalia que nova greve dos caminhoneiros teria grande impacto nas eleições e poderia causar a debandada de grande parte de sua base eleitoral.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro criticou duramente a Petrobras pelas altas sucessivas e pelo lucro registrado no primeiro trimestre deste ano. No período, a estatal acumulou R$ 44,561 bilhões — resultado 3.718,4% maior do que o computado no mesmo período do ano passado, quando a empresa faturou R$ 1,167 bilhão.
“Vou conversar com outros segmentos, pois a gente precisa pressionar a Petrobras para mexer na PPI [Política de Paridade Internacional]”, disse o líder dos caminhoneiros durante a greve de 2018, Wallace Landim, o Chorão.
Policiais estavam na expectativa de que o montante de R$ 1,7 bilhão reservado no Orçamento da União fosse destinado ao reajuste salarial da categoria — agentes federais, rodoviários federais e penitenciário. Bolsonaro sinalizou dessa forma diversas vezes, mas recuou após protestos dos demais servidores públicos.
Com isso, as categorias passaram a pressionar o governo para abrir vagas de chamamento destinadas aos aprovados nos últimos concursos dos dois órgãos.
Nesse sentido, o mandatário do país anunciou no início deste mês que “foi acertado” abrir mais 625 vagas para os aprovados da PF e outras 625 vagas para os candidatos que passaram na prova da PRF, totalizando 1.250 novos agentes para ambas as polícias.
Segundo o presidente, a expectativa é de que outras forças policiais sejam beneficiadas ainda este ano, após o período eleitoral. A categoria faz parte da base eleitoral do atual presidente da República.
Ainda na semana passada, o titular do Planalto acenou outra possibilidade: reestruturar as carreiras policiais, equiparando os salários. No entanto, ele mesmo admitiu que os agentes da PF poderiam não aceitar a ideia.
“Outra possibilidade agora que vai desagradar a Polícia Federal: mantém em 5% para todo mundo e faz a isonomia dos policiais rodoviários federais com os agentes da Polícia Federal, que há um certo distanciamento ali. Isso, da minha parte, faço agora. Como vai se comportar a Polícia Federal? Ela vai dizer que está contra, não quer? Vai entrar em greve? O que vai acontecer?”, questionou.
Pacote de bondades
Desde o início de março deste ano, o governo vem promovendo o “pacote de bondades”, medida historicamente comum em ano eleitoral. O pacote, dividido em três fases até o momento, é chamado de “Programa Renda e Oportunidade”. O objetivo é impulsionar a economia do país.
Na primeira fase, o governo anunciou:
- a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – cada cidadão com conta no fundo poderá sacar até R$ 1 mil;
- a antecipação das duas parcelas do 13º salários de aposentados e pensionistas;
- a criação de um microcrédito digital, que permitirá a pessoas com nome sujo ter garantia para empréstimos; e
- a ampliação de crédito consignado, que prorroga a possibilidade de contratação de crédito consignado aos beneficiários de programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Na segunda etapa do programa, foram assinadas medidas voltadas à:
- regulamentação do teletrabalho;
- regulamentação do auxílio-alimentação; e
- proteção aos trabalhadores que residem em localidades que estejam sob estado de calamidade.
Na semana passada, o governo anunciou a terceira fase. Nessa etapa, o Planalto divulgou medidas que incentivam a qualificação e empregabilidade de mulheres e jovens.