Lalo de Almeida
Josias de Souza
Lalo de Almeida/Folha
Depois de encostar seu governo no balcão, flexionando a espinha, a empáfia e a alma, Dilma Rousseff enfrentará nesta terça-feira um teste de plenário. Em sessão conjunta do Congresso, marcada para 11h30, deputados e senadores examinarão um lote de vetos presidenciais. Tendo se rendido sem ressalvas ao toma-lá, Dilma espera dos aliados a contrapartida de um vigoroso dá-cá. Qualquer resultado que não seja a manutenção dos vetos irá às manchetes como um vexame.
Numa tentativa de escapar do fiasco, o ministro Ricardo Berzoini, novo articulador político do Planalto, reuniu-se na noite desta segunda-feira com os líderes da coligação governista. Em conversa com o blog, um dos participantes do encontro disse que há grande preocupação com a hipótese de faltar quórum. Os comandantes das bancadas foram incumbidos de arrastar seus liderados até o plenário. Respirava-se na noite passada uma atmosfera de medo.
Em condições normais, a ausência de quórum seria um mal menor. Nas circunstâncias atuais, a imagem do plenário esvaziado sinalizaria que Dilma chafurdou no fisiologismo por nada. A insegurança do Planalto na noite da véspera é reveladora da fragilidade do arranjo partidário que Dilma chama de coalizão. Atento à angústia do governo, a oposição tramava desmobilizar-se. Os rivais do governo entendem que a obtenção do quórum é uma obrigação do governo.
Constam da pauta vetos cuja manutenção o governo considera vital. Entre eles o que brecou o reajuste para os servidores do Judiciário. Coisa de 53% a 78,5%, ao custo de R$ 36,2 bilhões em cinco anos. Há também o veto de Dilma ao projeto que estendeu a todos os aposentados do INSS o reajuste do salário mínimo. Derrubado, custaria ao Tesouro algo como R$ 11 bilhões até 2019.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que manobrou na semana passada para impedir que a apreciação dos vetos ocorresse, disse que não criará empecilhos nesta terça. Mas passou o dia antevendo dificuldades para a obtenção do quórum. No Planalto, suspeita-se que Cunha esteja operando nos subterrâneos para desestimular a presença dos seus devotos no baixo clero da Câmara.