Josias de Souza
Luís Cláudio Lula da Silva, filho de Lula, pediu ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) que determine a abertura de investigação sobre o vazamento de informações sigilosas do processo que o envolve. Fez isso por meio de representação assinada por seu advogado, Cristiano Zanin Martins. O documento é datado desta sexta-feira (13).
O caçula de Lula tem razões para se preocupar. Em depoimento prestado à Polícia Federal há dez dias, ele não conseguiu explicar como e por que ganhou R$ 2,5 milhões do escritório de consultoria Marcondes & Mautoni, de Mauro Marcondes, investigado na Operação Zelotes por suspeita de comprar medidas provisórias que favoreceram montadoras de automóveis com incentivos fiscais.
Os depoimentos de Luís Cláudio e de Mauro Marcondes ganharam as páginas da edição mais recente de Época. O ministro da Justiça foi acionado depois que repórter da revista procurou o advogado do filho de Lula para ouví-lo sobre a precariedade das informações repassadas à Polícia Federal.
Para o defensor de Luís Cláudio, ele “já prestou todos os esclarecimentos e afastou qualquer ligação com os possíveis ilícitos investigados.” Para os investigadores federais, ainda há muito por esclarecer.
Formado em educação física, Luís Cláudio, 30 anos, abriu uma empresa de consultoria em marketing esportivo, a LFT. A despeito de não ter nenhum funcionário e da experiência escassa do dono, a firma foi contratada pela consultoria Marcondes & Mautoni, especializada no ramo automobilístico, para realizar seis serviços entre junho e julho de 2014.
A LFT recebeu R$ 2.552.400 para realizar trabalhos variados – desde estudos relacionados à Copa do Mundo e à violência nos estádios até a enigmática “elaboração de análise de marketing esportivo como fator de motivação e integração nas empresas com exposição de casos e oportunidades”.
Ao depor na PF, a memória de Luís cláudio falhou diante de questões básicas. Por exemplo: como se chegou ao valor milionário da consultoria? A transcrição do depoimento do filho de Lula anota que ele “não se recorda, neste momento, o valor desse projeto.”
Luís Cláudio disse “que utiliza como parâmetro a quantidade de horas trabalhadas para a fixação dos valores cobrados aos seus clientes nos projetos que executa, que não sabe mensurar, neste momento, o valor cobrado pela sua hora de trabalhar”. Mas quantas horas teve de trabalhar? O contratado não soube responder.
Qual a margem de lucro? Quanto custou para executar o projeto? “Que, neste momento, não tem noção de quanto foi o custo de execução desse projeto; que também não sabe, neste momento, declinar a margem de lucro obtida nesse contrato”, registra o depoimento de Luís cláudio.
A PF quis saber por que a consultoria do setor de automóveis contratou a firma de Luís Cláudio. E ele: “Que Mauro Marcondes nunca explicou ao declarante por que optou por contratá-lo; que não sabe dizer se o Mauro Marcondes realizou alguma pesquisa de mercado antes de contratar o declarante.” A mesma pergunta foi feita ao contratante. Mauro Marcondes, que está preso. Ele preferiu silenciar.
A certa altura, Marcondes admitiu à PF que sabia que o valor pago ao filho de Lula era “absurdo”. Inquirido, ele disse ter feito uma “pesquisa superficial” de mercado. Incumbiu um estagiário da empresa de realizar o levantamento de preços. “Ele constatou que eram absurdos”, disse o depoente. O que não o impediu de desembolsar R$ 2,5 milhões.
Como se vê, Luís Cláudio e seu advogado têm milhões de razões para se preocupar com o vazamento dos dados do inquérito.