Josias de Souza
Fernando Haddad golpeou Jair Bolsonaro abaixo da linha da cintura ao discursar num ato partidário em Fortaleza. “Modéstia à parte, o Brasil precisa mais de um professor que de um miliciano”, declarou a certa altura. Ignorando as pesquisas que colocam o adversário cerca de 19 milhões de votos à sua frente, Haddad afirmou que ganhar a eleição de Bolsonaro terá “um gosto especial, (…) porque não é ganhar de um cara razoável. É ganhar de um trambiqueiro, é ganhar de uma cara destrambelhado.”
Haddad desembarcou na capital cearense na noite desta sexta-feira (19). Do aeroporto, foi direto para o local do evento organizado pelo PT, num comitê localizado na Praia de Iracema. Neste sábado, participará de uma caminhada no centro de Fortaleza. O senador eleito Cid Gomes (PDT).
Na última segunda-feira, ao participar de um ato pró-Haddad, o irmão de Ciro Gomes desentendeu-se com militares petistas. Língua em riste, Cid declarou que Haddad vai “perder feio” a eleição. Afirmou que será “bem feito”, porque o PT “fez muita besteira” e se recusa a protagonizar “um mea-culpa”. Disse, de resto, que não há muito a fazer, pois “o Lula está preso, babaca.”
Depois que seu discurso virou matéria-prima para ataques contra Haddad no horário eleitoral do adversário, Cid gravou um vídeo reafirmando seu voto no candidato do PT, “infinitamente melhor que o Bolsonaro.” Mas o estrago já estava feito. Cicerone de Haddad no Ceará, o deputado petista José Guimarães disse que não estava previsto nenhum encontro do candidato petista com Cid. Ele estaria em Sobral, reduto da família Gomes. O irmão Ciro tampouco aparecverá. Terceiro colocado na votação do primeito turno, continua no exterior. Volta no dia 27, véspera da votação.
Ao discursar, Haddad fez uma menção a Cid. Disse que, como ministro da Educação de Lula, prestigiou o Ceará. Enumerou inaugurações de escolas e universidades. Ao mencionar “o dinheiro que nós repassamos para o governo do Estado”, pediu reconhecimento: “Meu irmão Cid Gomes, pelo amor de Deus, reconheça. Foram R$ 300 milhões repassados para o Estado quando ele era governador. Eu tô falando com generosidade, porque me dou muito bem com eles. E fiz o meu dever…”
Haddad também injetou no discurso o tema que se tornou sua obsessão na reta final da corrida presidencial: a notícia de que empresários apoiadores de Bolsonaro financiaram ilegalmente a difusão massiva de notícias falsas anti-PT pelo WhatsApp. Disse esperar que, “com o tranco” provocado pela repercussão da notícia veiculada na Folha, “haja alguma prisão preventiva de empresário, para que eles denunciem em delação o que aconteceu na campanha” de Bolsonaro.
Ainda que não venham as prisões, “o Ministério Público Eleitoral já abriu inquérito para apurar a denúncia”, disse Haddad. Absteve-se de informar que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Polícia Federal que apure a suspeita de propagação de falsidades nas redes sociais pelas duas candidaturas, não apenas a de Bolsonaro. “Isso tudo contém o lado de lá, que vai ficar com um pouco de medo de cometer novos crimes”, limitou-se a afirmar.