Investigadores questionam as consultorias prestadas pelos dois ex-ministros aos grupos WTorre e Engevix; tese é de que ambos teriam ajudado as empresas a obter contratos com a Petrobras em negócios envolvendo o Estaleiro Rio Grande (RS); tanto José Dirceu como o empresário Gerson de Mello Almada, da Engevix, ressaltam que as consultorias nada tiveram a ver com a estatal, mas sim o objetivo de prospectar negócios para a empresa no Peru; Antonio Palocci, que prestou consultoria à WTorre, destaca que seus serviços “se limitaram, exclusivamente, à realização de apresentações e palestras ao corpo diretivo”
247 – A força-tarefa da Operação Lava Jato que mira negócios no Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com a Petrobras, volta a envolver os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci como suspeitos de terem recebido propina para viabilizar contratos dos grupos Engevix e WTorre com a estatal, por meio do estaleiro.
Reportagem publicada nesta tarde pelo jornal O Estado de S.Paulo traz detalhes do depoimento do empresário Gerson de Mello Almada, da Engevix, à Justiça. Ele discorre sobre contratos e a relação da empresa, que é sócia majoritária do Estaleiro Rio Grande, com a Petrobras. O estaleiro é responsável pela construção das primeiras plataformas tipo FPSOs do projeto Replicantes, no valor de R$ US$ 3,4 bilhões.
Os investigadores destacam uma coincidência de datas – que para eles, não seriam coincidência – entre consultorias prestadas pelos dois ex-ministros petistas e os negócios que as companhias tiveram com a estatal envolvendo o estaleiro. Palocci foi consultor da WTorre entre 2007 e 2010, quando a empresa construiu o estaleiro, e Dirceu trabalhou para a Engevix entre 2008 e 2012, quando a empreiteira comprou a unidade e assumiu a construção das bases para plataformas.
Tanto Almada quanto o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, no entanto, não citam Dirceu e Palocci como beneficiados de “comissões” ou “propinas”. Os ex-ministros ressaltam também que o dinheiro recebido por suas consultorias nada tem a ver com o caso Petrobras. Mesmo assim, os investigadores acreditam que as consultorias dos dois políticos possam ter sido usadas para ocultar vantagens ao PT.
Defesas
De acordo com a Engevix, “o contrato com a JD Consultoria [de José Dirceu], como detalhadamente esclarecido nos depoimentos à Justiça, foram relativos a abertura de oportunidades na América Latina, em particular no Peru e em Cuba e é anterior ao negócio da Petrobras. Os serviços foram prestados, mas nenhum contrato foi fechado por conta desta consultoria de curto prazo para o desenvolvimento de negócios”.
A assessoria de imprensa de José Dirceu informa que o ex-ministro “não teve qualquer envolvimento em contratos para construção de plataformas nem com o estaleiro em questão. Os contratos da JD com a Engevix e com a JAMP tiveram o objetivo de prospectar negócios para a construtora no Peru, o que é confirmado pelos executivos da Engevix”. A nota também rebate a informação de que a empreiteira não teria trabalhado no Peru durante o período da consultoria do ex-ministro.
O grupo WTorre informou que “o ex-ministro Antonio Palocci foi contratado para fazer uma série de palestras tanto para executivos da WTorre quanto para empresários convidados por nós. As palestras (sobre temas variados tais como: cenário econômico internacional (por conta da crise global 2008/2009), tendências da política interna (eleições em 2010) entre outros”. Questionada se a consultoria de Palocci tinha relação com a venda dos direitos do Estaleiro Rio Grande para a Engevix, a companhia respondeu: “absolutamente não!”.
Já Palocci informou que “as relações profissionais entre Projeto e WTorre se limitaram, exclusivamente, à realização de apresentações e palestras ao corpo diretivo desta última, sempre envolvendo temas de análise do cenário econômico e perspectivas do mercado imobiliário” e que sua empresa, a Projeto, “não teve qualquer relação com as empresas acusadas na chamada Operação Lava Jato, jamais havendo prestado serviços a qualquer uma delas”.