Adriano Visani
Josias de Souza
Uma pessoa pode mudar. Pode até mudar radicalmente de vida —mesmo que uma migração de Che Guevara para Joaquim Levy pareça exagerada. Mas quem conhece Dilma Rousseff se pergunta se algum dia ela imaginou que seu destino estaria tão dependente de um personagem como Renan Calheiros. Na definição de um auxiliar, a reaproximação com o presidente do Senado deixou Dilma “aliviada”. Sobretudo “depois do que ela sofreu na semana passada.”
Referia-se à humilhação que o plenário da Câmara impôs a Dilma ao aprovar uma ‘bomba fiscal’ pelo elástico placar de 445 a 16. Nem o PT fechou com o Planalto. Num cenário assim, tão deteriorado, ter Renan de novo do seu lado, para fazer o contraponto a Eduardo Cunha, presidente da Câmara, deixou Dilma “aliaviada” às vésperas de um novo ronco das ruas contra o seu governo, programado para soar no domingo em cerca de 200 cidades.
A esse ponto chegou Dilma: em troca de algumas noites de sono, tolera como sedativo um pesadelo investigado na Lava Jato. Afora o rastro pegajoso, Renan lhe impõe um pacote de projetos cuja viabilidade é inversamente proporcional ao seu tamanho. Eram 28 propostas. Nesta quarta-feira, após reunião de Renan e um grupo de senadores com os ministros da área econômica, o embrulho passou a conter 43 projetos.
A despeito do peso dos seus interesses, Renan move-se com a desenvoltura de um presidente acidental. Antes de coordenar uma reunião de duas horas com os ministros Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), ele havia sido festejado em café da manhã com Lula e a caciquia do PMDB. Deu-se no Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer. Longe dos refletores, Lula elogiou o protagonismo de Renan e, numa crítica velada a Levy, disse que o governo tem de mudar de assunto. Acha que ninguém alguefalar de ajuste fiscal.
Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho ironiza: “Eu já tinha ouvido falar de estacionamento rotativo. Mas presidência rotativa é a primeira vez que vejo. Como Dilma não tem agenda, a Presidência é ocupada semanalmente por um personagem diferente —ora o Eduardo Cunha, ora Renan Calheiros.”