Uesley Marcelino
Josias de Souza
Horas antes do anúncio da abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer recebeu para o almoço, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, cinco lideranças da oposição: Tasso Jereissati, Aloysio Nunes Ferreira e José Serra, todos do PSDB; José Agripino Maia, do DEM; e Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Os visitantes foram conversar sobre impeachment. Ouviram do anfitrião a defesa de um governo de “união nacional”.
O encontro foi solicitado pelos oposicionistas. Queriam expor a Temer um abaixo-assinado que corria no Senado. O texto dizia que o país não podia mais conviver com a instabilidade causada pela dúvida quanto ao processo de impeachment. Os subscritores defendiam que o presidente da Câmara deveria tomar uma decisão final, arquivando todos os pedidos ou deflagrando o processo contra Dilma. Os comensais de Temer não supunham que seriam atendidos pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no final da tarde.
Durante a conversa, Temer defendeu a tese segundo a qual “é preciso reunificar o país” —com Dilma ou com quem vier depois dela. Lembrou que vem falando em “pacificação nacional” há mais de dois meses. No processo de impeachment, a presidente pode ser impedida pelo Congresso. O que levaria à posse de Temer. Dilma também pode ter seu mandato anulado pelo TSE, onde corre um processo sobre as contas da campanha de 2014. Nessa hipótese, a vice-presidência de Temer também iria para o beleléu. E o presidente da Câmara assumiria (Cunha?), para convocar novas eleições em 90 dias.
Um dos oposicionistas recebidos no Jaburu quis saber se Temer disputaria a reeleição na hipótese de o destino lhe entregar a cadeira de Dilma. Ao relatar a conversa a um amigo, Temer disse ter respondido que a presidência da República não está no seu horizonte. Mas declarou algo que os representantes da oposição queriam ouvir. Se por acaso virar presidente, não ousará reivindicar a reeleição. Parece detalhe, mas para um partido como o PSDB, que tem presidenciáveis na fila de 2018, é uma questão central.
Temer soube que Eduardo Cunha deflagraria o processo de impeachment minutos antes da entrevista concedida pelo presidente da Câmara. Em privado, disse que não cogita assumir a defesa do mandato de Dilma. Alega que o PMDB está dividido sobre a matéria. Como presidente da legenda, não considera apropriado tomar partido. Planeja cumprir, com rigor institucional, seus deveres de vice-presidente da República.