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Questão foi levantada pelo secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, após saber que o policial militar Neandro Santos de Oliveira, desparecido desde a semana passada, foi queimado vivo por traficantes da favela Final Feliz, em Costa Barros, zona norte do Rio. Para Jaílson de Souza e Silva, diretor do Observatório de Favelas, “Nós temos que lamentar todas essas mortes porque elas não são simplesmente consequência da truculência ou maldade do policial ou do criminoso. São frutos de uma política equivocada por parte do Estado que privilegia o enfrentamento de determinado tipo de criminalidade e não a defesa da segurança pública para todos os moradores, inclusive para os policiais”
Favela247 – Após saber que o policial militar Neandro Santos de Oliveira, desparecido desde a semana passada, foi queimado vivo por traficantes da favela Final Feliz, em Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou: “eu gostaria que a sociedade visse isso com indignação e tristeza. Parece que é o trabalho dele; que ele é policial e ele tem que morrer”
A reportagem do UOL procurou membros de organizações da sociedade civil, especialistas em segurança pública, e a viúva de um policial morto, que também trabalha na corporação para discutir se a morte de um policial realmente causa menos comoção que as mortes de outras vítimas de violência, assunto é complexo e muitas vezes tratado de forma passional.
Leia as declarações abaixo:
Bianca Neves Ferreira da Silva, 31. Capitã da PM e chefe da secretaria da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, viúva do capitão Uanderson Manoel da Silva, 34, morto por um tiro de um colega durante confronto com traficantes da favela Nova Brasília, no Alemão: “Eu acho que a nossa sociedade está doente. Os valores estão invertidos. Quando um vulnerável morre o clamor é bem maior”, declara. Bianca reclama ainda da falta de atitude por parte do governo. “Se o próprio governo não se indigna de verdade que os seus próprios funcionários estarem morrendo, que dirá a população?”
“Nunca recebi nenhuma indenização e vou entrar na Justiça. Isso é um direito nosso, da nossa filha de nove anos, que vai crescer sem um pai. E ela já está sofrendo problemas psicológicos. Tem pânico que eu também morra”, afirmou. “Mas a família de A, B ou C tem indenização, ganha nome de rua”, disse, em referência ao ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, morto por PMs da UPP da Rocinha em 2013.
Jaílson de Souza e Silva, diretor do Observatório de Favelas e professor da Universidade Federal Fluminense: “A sociedade despreza, em geral, a vida dos jovens, pobres, de favelas ou periferias. E também despreza os policiais como agentes do Estado, da repressão, considerando que no seu papel há a naturalização de que ele morra por conta da estratégia de combate ao tráfico de drogas”, declara.
“Nós temos que lamentar todas essas mortes porque elas não são simplesmente consequência da truculência ou maldade do policial ou do criminoso. São frutos de uma política equivocada por parte do Estado que privilegia o enfrentamento de determinado tipo de criminalidade e não a defesa da segurança pública para todos os moradores, inclusive para os policiais”
Alexandre Ciconello, assessor de direitos humanos da Anistia Internacional: “[A declaração de Beltrame] confunde uma discussão que é complexa. Qualquer vida perdida é lamentável”, diz Ciconello. “Quando um policial é morto em serviço, de quem é a responsabilidade por ter colocado a vida desse profissional em risco? Quem tem que ser cobrado é o Estado”, comenta.
Ciconello aponta ainda que a comoção varia conforme as circunstâncias dessas mortes. “Quando se trata de uma criança assassinada quando estava brincando com um celular na porta de casa ou de um policial que é torturado e arrastado por um cavalo, lógico que provoca uma grande comoção, porque são absurdos”.