Pedro Marinho – O dia em que o policial assassinou o próprio sobrinho

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Em meados de 1985, cumprir um plantão na Central de Polícia era um trabalho estressante e que ninguém gostava de fazer. No caso dos delegados, como o quadro ainda era bem reduzido, a carga de plantões era demasiada e muitas vezes com inquéritos prestes a vencer, ao sair do plantão noturno, o delegado ainda tinha que ir cumprir o expediente na sua delegacia.

Certo dia, iniciando um plantão às 20 horas e que se não ocorresse nenhum atropelo deveria terminar apenas às 8 horas do dia seguinte,  eu rogando naquela ocasião, para que fosse uma noite tranquila, eis que dispara o telefone e do outro lado da linha, um policial cujo nome não recordo, disparou: ‘ Dr. Pedro Marinho, nós estávamos tomando umas bebidas na casa do policial Fulano – mesmo sendo uma ocorrência publica, em razão de o mesmo já não se encontrar entre nós vou omitir o seu nome – e ele começou a discutir com um sobrinho dele já adulto, com ciúmes da esposa e ai eu resolvi sair do local e já me afastava quando ouvi vários tiros, não sei bem o que aconteceu, mas estou pensando no pior”. De imediato reagi: ‘Poxa vocês não sabem nem se comportar numa brincadeira familiar e as coisas já tomam esse rumo’. Tendo em seguida desligado o telefone e dito ao condutor da viatura, o Senhor Lima,  que iríamos tentar localizar o Jurandir nas imediações da residência do mesmo, ali próximo ao Conjunto Santo Antonio.

Ao descer os degraus da porta lateral da Central de Polícia para adentrar na viatura, cuja lateral sempre foi muito mal iluminada, eis que ouvi alguém chamar pelo meu nome e ao me virar vi sair da escuridão, o policial Fulano, com os olhos esbugalhados e a arma apontada para mim, dizendo: ‘Doutor matei o meu sobrinho e vim me entregar ao senhor, ocasião que assustado com a aparição, disse ao mesmo: ‘Faça o correto, baixe a arma e me entregue a mesma pelo cabo, com o cano apontado para baixo’ o que ele fez. 

Ao adentrar com ele na sala do plantão, não nego, mandei uns desaforos contra o mesmo e parti para o local do crime e ao adentrar na residência, já vi a vitima uma pessoa de boa estatura como a dele o assassino, estendida no corredor da casa e muito sangue espalhado pelo chão do corredor da casa. Tendo naquela ocasião, adotado as providencias de preservar o local do crime e acionar a perícia.    

De volta ao plantão, verifiquei ali o advogado Abílio Nascimento, que já havia sido acionado por alguém da família e que se apresentou como advogado dele o policial em questão. Verifiquei também, que a minha situação era bem desconfortável, pois pela lei, eu estava obrigado a fazer o auto de apresentação espontânea do mesmo e ficaria numa situação bem difícil, pois nem a imprensa, a população e muito menos os familiares dele o atirador, iriam entender que ainda na madrugada do grave delito, eu o liberasse para retornar ao local do crime, totalmente livre.

Expliquei ao advogado Abílio, que ia fazer o auto de apresentação espontânea, mas seria temerário liberar o policial e eu mesmo assumindo o risco de abuso de autoridade, iria mantê-lo detido até o dia seguinte, quando então veria uma solução menos traumática para o caso, o que de pronto o advogado que era muito amigo da família do citado policial, entendeu as minhas razões e se virando para o atirador, disse: ‘Nem vou ficar aqui, pois confio muito no Dr. Pedro Marinho e a solução que ele dará. Você se encontra em boas mãos e só voltarei aqui no amanhecer para receber cópia do auto e se retirou em seguida’.

Já pela manha, por volta das 8 horas, com a Central fervilhando de jornalistas, Dr. Abílio retornou e eu disse ao mesmo: “Dr. Abílio, continuo sem solução para o caso, como vou liberar esse homem e ele retornar a sua residência, palco dos acontecimentos, o que irão dizer vizinhos e familiares? ’ Quando então Dr. Abílio, que era uma pessoa super brincalhona e sendo ele da raça negra, surpreendeu a todos, dizendo: ‘Doutor já tenho a solução para esse problema, um negrão desse – o policial era também negro e de bom porte físico – vai dar certinho no meu sitio, pois vou dar uma enxada para ele e empurrar muito trabalho para o mesmo, garantindo ao senhor que nos próximos trinta dias, ele não aparecerá aqui na cidade’ e saiu levando o policial, que o seguiu mesmo a contragosto o seguiu, já prevendo que teria que trabalhar duro,  pois, certamente jamais havia utilizado uma enxada no cansativo trabalho de roça.

O fato é que com muito sacrifico me safei daquela verdadeira noite de terror, mas aquele plantão ficou para sempre na minha memória.       

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